quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Alergia a proteína do leite de vaca


Sumi mas revivi. Ando morta com farofa com as coisas da faculdade e da vida e não tem rolado muita inspiração pra postar aqui no blog, mas pretendo mudar isso de alguma forma. Dadas as devidas explicações, vamos ao texto.



Não sei se eu cheguei a comentar aqui, mas no final do ano passado descobrimos que Aurora tem alergia a proteína do leite de vaca. Não é intolerância a lactose, nem alergia ao leite, que são coisas completamente distintas. Vou falar um pouquinho de cada coisa baseada no conhecimento que eu adquiri nesse 1 ano de mãe de alérgica e que fui acumulando através de leitura de grupos especializados no tema no facebook, artigos científicos e rotina.

A intolerância à lactose é a dificuldade ou a incapacidade de digerir o açúcar do leite (essa parte eu copiei igualzinho a minha amiga Ane Aguiar me explicou). Em geral pessoas intolerantes tem reações mais brandas quando entram em contato com o leite, que podem variar de desconforto abdominal e diarréia a vômitos e outros sintomas mais "amenos". Costuma ser mais comum em adultos, sendo poucas as crianças de fato intolerantes.

A alergia a proteína do leite de vaca é uma coisa um pouco mais complexa. Em geral aparece no primeiro ano de vida e costuma curar (se tomados os devidos cuidados) por volta dos 6 ou 7 anos. Segundo o gastropediatra da Aurora, se depois dessa idade de vida a criança continuar a manifestar os sintomas da alergia, provavelmente ela será alérgica pro resto da vida. Esse tipo de alergia consiste numa reação do sistema imunológico, em que o corpo vê aquela proteína como um organismo estranho, liberando anticorpos. É muitissímo comum em crianças (estima-se que aproximadamente 60% das crianças tenham esse tipo de alergia) e tem cura.

Existem dois tipos de alergia a proteína do leite de vaca: a alergia mediada e a não-mediada. Em crianças com alergia do tipo mediada, o diagnóstico é mais fácil, pois em geral esse tipo de alergia pode ser rastreada através de exames de sangue. A criança com alergia mediada, quando em contato com os produtos que provocam as reações, manifestam sintomas como vermelhidão no local que foi tocado, pontinhos vermelhos tipo picada de mosquito no corpo, inchaço, vômito, diarréia e até choque anafilático. É muito importante fazer essa diferenciação, pois os alérgicos tem um problema muito maior com o leite do que os intolerantes, visto que esse tipo de alergia pode provocar choque. Se um intolerante entra em contato com o leite, ele vai passar mal por um tempo e em geral fica tudo bem, mas se um alérgico entrar em contato com esse tipo de alimento, pode ter um choque e necessitar de cuidados médicos urgentes. Conheço inúmeras mães de alérgicos mediados que, dentre todas as coisas que a gente carrega quando sai de casa com uma criança pequena, precisa andar com adrenalina dentro da bolsa pro caso da criança entrar em choque e não acontecer algo mais grave.

A alergia não-mediada, que é a que Aurora tem, é a mais chata de todas no sentido do diagnóstico, pois não é possível rastrear com exames comuns. A criança não-mediada apresenta sintomas brandos, porém persistentes, que vão debilitando a longo prazo devido à dificuldade em se fechar o diagnóstico. No caso de Aurora, o sintoma recorrente foi o não ganho de peso. Aurora passou 1 ano sem engordar e crescendo pouco. Ela sempre foi uma criança pequena e magra, mas chegamos ao ponto em que ela estava abaixo da curva vermelha de ganho de peso (e eu já arrancando os cabelos) e graças a minha anjo Ane, conseguimos fechar o diagnóstico. Aurora, além de não ganhar peso, tinha diarréias frequentes que duravam 10 dias, todos os meses. No começo achamos que era virose da creche, mas com o passar do tempo e depois de rodar 6 pediatras e um alergista sem diagnóstico, começei a fuçar o que poderia ser isso e finalmente descobrimos.

Os sintomas da alergia são muito inespecíficos. Tem criança que faz cocô com sangue e/ou muco, algumas apresentam sintomas semelhantes ao refluxo, inchaço, catarro frequente, vômitos, diarréia, vômitos com sangue, irritação cutânea, assadura persistente e que vai se agravando ao longo do tempo e mais uma série de coisas peculiares que deixam os pais malucos. É importante salientar que no caso de sintomas gástricos o alergista não vai resolver o problema, e que o ideal é o trabalho conjunto dos dois.

As chances de cura são grandes se a família (e aí tem que ser todo mundo!) entrar no jogo e excluir definitivamente os produtos com leite e derivados da casa. Também é necessário fazer o controle de traços da proteína do leite. Os traços são pequenos "restos" de proteínas que ficam nos alimentos e utensílios utilizados pra preparar a comida. Nesses casos, o recomendável é trocar as panelas da casa ou separar uma panela nova para cozinhar apenas os alimentos que a criança vai poder comer. Até o pão da padaria pode ser o vilão, pois a gente nunca sabe se a bancada estava limpa quando o padeiro foi fazer a receita, se a moça utilizou o pegador no pão doce com leite e depois foi pegar o pão normal, enfim. Aqui tivemos que trocar tudo, até a bucha da pia pra não contaminar as coisas de Aurora. Compramos uma máquina de pão e fazemos pão em casa e dificilmente comemos na rua. O sacrifício é grande, mas ver seu filho ficar só pele e osso é pior ainda.

As chances de cura também aumentam muito se a mãe amamenta (nesse caso a mãe também tem que fazer dieta de restrição de leites e derivados) pois o leite materno tem efeito similar a um cicatrizante no organismo da criança. Outro fator que o gastropediatra da Aurora falou e que eu desconhecia é que ter parto normal é extremamente benéfico pra criança pois, ao passar pelo canal vaginal, o bebê entra em contato com as bactérias da vagina da mãe e isso faz com que a criança receba "up" no sistema imune. Outra coisa que me chamou a atenção foi quando o gastro tocou no assunto das cesarianas, principalmente porque, segundo ele, os pediatras brasileiros estão sendo cobrados em congressos internacionais a responder sobre os números abusivos de partos cirúrgicos no Brasil, que levariam a um aumento considerável na taxa de nascimentos prematuro e... TCHARAM, aumenta o número de alérgicos! Não conseguí checar essa informação pois o meu acesso ao publimed e outros periódicos especializados em medicina é restrito, mas sinceramente? Pra mim essa informação faz todo sentido do mundo.

É importante lembrar que crianças alérgicas não podem consumir produtos do tipo "sem lactose" ou "lactose free", pois esses produtos ainda contém as proteínas do leite que provoca reações. Produtos sem lactose não contém o açúcar do leite, que provoca reações em pessoas intolerantes. Alérgicos não devem consumir esses produtos de forma alguma!

Vou deixar abaixo um vídeo bastante completo sobre o tema com uma entrevista que eu dei pro jornal local daqui de Lavras.



abaixo alguns links de grupos de apoio a mães de alérgicos que eu participo no facebook e que me ajudaram muito a manter a sanidade mental, indicando profissionais, dando colo quando eu achava que a coisa tava feia, passando receitas fantásticas pra substituir as coisas que eu tinha vontade de comer e, principalmente, que passam um tipo de informação tão específica que pouquissímos médicos tem pra passar pra quem vive essa realidade de alergia.

Meu Filho é Alérgico a Leite: https://www.facebook.com/groups/mfal1/?fref=ts
Amigas da Alergia: https://www.facebook.com/groups/200704536609856/?fref=ts
Grupo Virtual de Amamentação (lá tem muita mãe de alérgico e é indispensável que as mães que queiram amamentar entrem nesse grupo!): https://www.facebook.com/groups/266812223435061/?fref=ts

Peço desculpas se houver alguma informação equivocada ou coisa do gênero, então por favor, se você ver algum erro conceitual nesse texto, me avisa que eu corrijo ok?

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Parto normal após 3 cesáreas (VBA3C) da Vanessa Pangaio


Aproveitando a deixa do programa "Encontro" da Fátima Bernardes em que a Vanessa participou lindamente falando sobre parto normal, publico aqui o relato dela.


Minha história como mãe....
            Não teria como relatar minha conquista do meu parto normal sem contar toda trajetória das minhas gestações anteriores. Minha vida como mãe começa aos 16 anos quando fiquei grávida pela primeira vez, até então tinha na cabeça que teria um parto normal mais quando comecei a ter as contrações que achávamos que já era pro parto liguei pro médico o mesmo me mandou ir ao hospital e disse que ainda não tava dilatando que provavelmente demoraria muito ainda, eu sem informação e com muita ansiedade  em conhecer meu primeiro filho me deixei levar pelas palavras dele e cai na primeira cesárea em 14/09/1999, onde nasceu Fernando. A segunda gravidez demorou pra acontecer engravidei novamente no ano de 2007 e a DPP do João Vitor era próxima do aniversário do meu esposo então ainda sem muita informação sobre os riscos de uma cesárea eletiva e querendo presentear meu esposo com o nascimento do nosso filho, caí na segunda cesárea segundo o médico eu a merecia. A terceira gravidez aconteceu em fevereiro de 2010 nessa eu já queria muito um parto normal , pois a recuperação de uma cesárea era muito difícil e dessa vez eu ia ter que me virar sozinha pois minha mãe estava trabalhando e não teria como me ajudar, mais quando questionava os médicos pelo parto normal , eles vinham com aquela resposta " seu útero não aguenta, se você entrar em trabalho de parto ele vai romper", e com toda pressão de casa desisti pois achei que eu era louca e estava colocando tanto minha como a vida de meu filho em risco sem real necessidade, então no dia 29/12/2010 nasceu Gabriel, fiquei frustrada, não me conformava em ter desistido do meu parto , não consegui amamentar,era como se involuntariamente eu o rejeitasse, chorei muitas vezes por me sentir incapaz de ter lutado pelo que eu queria, dessa vez roubaram meu parto, eu me permiti , não briguei pelo que eu queria, minha recuperação foi horrível, sentia muitas dores na cicatriz, e além de tudo havia ficado uma marca na alma. Então quando o Gabriel tinha uns três meses engravidei novamente, fiquei apavorada com a idéia , mais logo depois foi constatada que era uma gestação anembrionária e com aproximadamente 12 semanas meu corpo se encarregou de fazer o aborto, fiquei triste com tudo isso, mais tinha que seguir em frente.  Foi aí que falei com meu esposo quero fazer um plano de saúde, pra quando tivermos outro filho eu escolher como quero que ele nasça, tola eu não sabia  como estava o sistema obstétrico no nosso país. Daí num descuido de um dia veio a quarta gestação,não estava nem atrasada e já sabia que estava grávida. Comecei a fazer o pré-natal com GO do plano e em torno de 12 semanas comentei com o médico que queria ter normal , não queria ser submetida novamente a outra cirurgia, daí ele me sentenciou a morte, me chamou de louca, fez questão de escrever no meu prontuário para que caso eu viesse a óbito minha família não o processasse, mais dessa vez não me deixei abater, argumentei com ele que era possível sim e que iria correr atrás do meu desejo .  Deus então colocou na minha vida Aline Amorim (doula) que teve toda paciência em me mostrar que com plano não ia parir de novo,  me vi perdida , como em seis meses ia conseguir o dinheiro pra pagar uma equipe pra realizar meu sonho de parir, porque eu sabia que era capaz e queria muito, então comecei a buscar e algumas meninas dos grupos Parto Natural, VBAC, GPM e Fralda de Pano Moderna  resolveram me ajudar ganhei algumas coisas e comecei uma campanha pra levantar o dinheiro pra poder pagar a equipe. Não tenho como deixar de dizer que nessa gravidez Deus me abençoou grandiosamente, minha saúde estava perfeita, pessoas do Brasil todo se mobilizaram por mim, confiaram na minha capacidade e resolveram abraçar minha causa,  fui as reuniões do ishtar onde cada vez mais ficava certa de que eu ia conseguir, claro que tinha alguns medos mais que não me deixaram abater,  enfim com muita luta consegui arrecadar todo o dinheiro do parto, só faltava agora chegar a hora dele nascer... 
      Enfim a hora chegou...
    No domingo do dia 25/11/2012 passei o dia me sentindo desconfortável estava com 41 semanas e nada havia acontecido, meu marido que estava no Rio tinha que vir pra casa eu não queria que ele viesse era como se meu eu já soubesse que as coisas iam acontecer, pois bem aproximadamente  às 4:00 da manhã a bolsa rompeu logo vieram as contrações, liguei pra Aline pedindo que ela viesse e já fiquei no chuveiro, relaxando um pouco... Logo Aline chegou e ficamos conversando, as contrações vinham, mss eu consegui suportá-las , Aline fazia massagens por algumas vezes, outras vezes eu ia pro chuveiro, conversávamos e assim o tempo passava e eu não percebia, logo chegaram Maíra e Valéria, Maíra (parteira) monitorou Raphael e seus batimentos sempre ótimos, conseguia relaxar bem entre uma contração e outra e em alguns momentos consegui até cochilar...Maíra precisou ir embora buscar seu carro e Valéria trocar a câmera pois tinha pego a do seu esposo, acho que não esperavam que fosse tudo acontecer tão rápido..rsrs... realmente não consegui ver o tempo passar, por volta de 15: 00 comecei a sentir os puxos do expulsivo, veio a vontade de fazer força, era incontrolável, essa parte pra mim foi a mais tensa, ainda estava em casa... Aline logo pediu que chamasse o táxi , minha mãe ficou nervosa com receio que nascesse em casa, enfim com muito custo consegui descer as escadas e entrar no táxi,nessa parte lembro vagamente das coisas, na chegada no hospital mais problemas não queriam fazer minha internação alegando não ter vaga e que só trabalhavam com procedimentos agendados ou seja "cesária", mas depois de muita luta da Aline e Valéria e de quando arrumei forças pra descer do táxi , Maíra me auxiliou até a recepção, lá veio outro puxo e vontade de fazer força, me agachei no chão e veio aquele gemido e rapidamente vieram com a maca... às 16:41 aproximadamente pois ninguém lembrou de ver a hora Raphael nasceu na banqueta de cócoras após três forças, foi um momento mágico maravilhoso, poder sentir seu corpinho passando pelo canal , nosso primeiro momento junto não foi roubado logo ele veio pro meu colo e mamou, pude senti-lo quentinho , escorregadio e com aquele cheirinho delicioso, nesse momento só me veio na cabeça os meus partos roubados os filhos que não pari por culpa desse sistema obstétrico que nos levam a fazer cesária, ali nasceu junto com o Raphel uma nova Vanessa que soube que era capaz que podia sim, sentir suas contrações, sentir os puxos do expulsivo e trazer seu filho ao mundo de forma natural, sem ocitocina, sem analgesia , enfim sem esses procedimentos rotineiros... Rapha nasceu em 12 hs de trabalho de parto com 50 cm, 3,650 kg e apgar9/10 e tive uma pequena laceração e só fiquei trsite porque meu marido não pode participar...
        Não sou muito boa em escrever e expressar meus sentimentos espero que com esse relato vocês consigam vivenciar toda minha felicidade em ter conquistado o meu tão sonhado parto ... e quero agradecer demasiadamente Aline Amorim minha doula que sempre teve muita paciência comigo e me mostrou esse mundo tão maravilhoso da humanização..Marcos Nakamura obrigada por ter me passado tanta confiança me mostrando que era possível sim, Ana Fialho, Karine Vasconcellos, Malila Wrigg, Maíra Libertad, Valéria Ribeiro,Ingrid Lofti, Juliana Fernandes Monteiro, Luciana Fernandes, toda mulherada do Ishtar e enfim aos grupos de parto que faço parte  que contribuiram comprando as rifas para que eu pudesse pagar meu parto e conquistar meu VBA3C...

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Parto normal após cesárea com 13 meses de intervalo! (VBAC da Thais Costa)

Lembram da Thais, que eu coloquei o relato aqui? A Thais sofreu violência obstétrica no nascimento da primeira filha e estava tentando um VBAC (parto normal após cesárea). Aqui vai o relato:






Desde o nascimento da Cecília nós usávamos camisinha e coito interrompido quando dava tempo de fazer alguma coisa,  dia  11/09/11 tivemos um “acidente de percurso com a camisinha” teoricamente eu não estava no período fértil, mas como só havia menstruado uma vez após o nascimento da Cecília,  eu tomei a pílula do dia seguinte para desencargo de consciência, ela tinha menos de 5 meses e engravidar de novo era algo inimaginável por vários fatores:  idade da Cecília, financeiro, profissional, psicológico e o que mais pesava era a forma como a Cecília havia nascido. Gravidez pra mim era algo ameaçador, era correr o risco de passar todo aquele horror de novo, de ser cortada e agredida novamente. 
Porém, só dia 24/09 fazendo lista de supermercado me dei conta de que não havia usado o pacote de absorventes do mês anterior. Quando fiz as contas senti um gelo na espinha... Estava com 4 dias de atraso, como seria meu 2º ciclo menstrual após a Cecília, eu pensei que pudesse ser um descontrole fisiológico e me acalmei, comprei um teste de farmácia só por desencargo de consciência e fui pro banheiro. Fiz xixi no palitinho e quando trouxe pra perto dos olhos já estava lá a 2ª listra aparecendo tímida e ficando cada vez mais forte.
Gritei meu marido  do banheiro e comecei a chorar desesperadamente.
Eu estava grávida de novo! 
Meu marido com seu otimismo irritante se agarrava ao 0,01% de margem de erro do teste de farmácia, fiz de outra marca e deu positivo também.  O dia amanheceu e fui pro laboratório, quando puncionaram minha veia percebi o sangue mais ralo por causa da hemodiluição fisiológica da gravidez... Antes mesmo do resultado comecei a me conformar com a minha nova condição de puerpera grávida.
Diferente da primeira gravidez que demorei para aceitar, eu não desejava que aquele bebê não existisse, de certa forma  me sentia  feliz  em saber que  teria outro filho, mas a possibilidade eminente de outra cesariana me atordoava, eu não podia passar por essa vida sem parir um filho, esse sempre foi  um desejo muito vivo em mim, e a falta de grana e o intervalo da cesárea da Cecília me faziam sentir esse desejo escapar entre os dedos.
Por volta de meio dia eu acessei o site do laboratório e já não existiam mais dúvidas, estava lá meu positivo! Gritei meu marido que estava no quintal brincando com os cachorros e quando ele me viu chorando na sala abriu um sorriso enorme e disse que daria tudo certo, que faríamos tudo que estivesse ao nosso alcance para que esse bebê nascesse com respeito.
Eu não tinha muitas opções aqui no Vale do Paraíba, me sentia insegura em tentar novamente um parto domiciliar, precisar de hospitalização e cair nas mãos de outro plantonista infeliz, então saí procurando uma saída para conseguir parir esse bebê.
A Kal que foi minha companheira de barriga na gestação da  Cecília me disse que conhecia um médico  aqui da região que já havia feito alguns partos leboyer , pesquisei na internet e descobri que ele participou do primeiro parto leboyer realizado no Brasil na década de 70. E lá fui eu atrás dele. ..
As consultas eram bem mais caras que o valor praticado aqui na região, a nossa situação já estava  mega apertada, eu ainda recebia a licença maternidade, mas sabia que não voltaria a trabalhar quando ela terminasse,  pagamos aluguel, temos 5 animais em casa e um bebê de pouco mais de 4 meses, mas,  estávamos dispostos a qualquer sacrifício. 
Fui a primeira consulta por volta das 4 semanas de gestação, gostamos dele, era atencioso, trabalhava com evidências e disse que o intervalo não dizia muita coisa, que só diminuía minimamente o risco de ruptura uterina, e que pra ele via de nascimento só se definia em trabalho de parto. Perguntei o valor do parto já na primeira consulta e ele disse que mais pra frente falaríamos disso
 Me pediu uma  USG para a 7ª semana de gestação para termos certeza da idade gestacional dessa gravidez, já que a da Cecília havia chego a 42 + 3 e o capurro dela foi de 39 semanas.
Exame feito, IG batia exatamente com DPP pela DUM e o pré-natal  corria tranqüilo, não sentia com o GO aquela afinidade que se sente com alguém que veste a camisa da militância pela humanização do parto, mas ele era infinitamente mais agradável que os cesaristas que conhecia.
Então, lá pela 22ª semana, sentamos após a consulta para discutirmos os valores do parto.
Ele mais a equipe da qual ele não abria mão ficariam em R$11.000,00. Tentei argumentar  e dizer que os demais membros (anestesista, pediatra e “cirurgião auxiliar”) eu usaria os plantonistas do hospital pelo meu convênio, mas ele disse que era imprescindível um anestesista e um neonatologista de confiança, mesmo eu dizendo que queria um parto natural sem anestesista.
Saímos de lá bem perdidos, nem vendendo nosso  carro daria para pagar tudo, mas como ficaríamos sem carro com 2 bebês? Enfim, meu desespero era tamanho que eu estava disposta a me endividar até a alma caso fosse necessário, mas por mais que eu gostasse da postura do GO não sentia aquela segurança de que ele vestia a camisa do meu parto, de que ele acreditava no protagonismo da mulher, apesar de trabalhar com evidências eu percebia que para ele, o parto era um evento médico!
 Trocando em miúdos, meu parto não era meu, era um acontecimento que dependia dele e da equipe caríssima que ele exigia.
Eu já estava com umas 23 semanas, havia descoberto que quem habitava minha barriga era o Francisco, um menininho que nos deixou muito feliz, comecei a pensar que não era só um parto, eu teria 2 bebês pra cuidar depois e como seria se eu fizesse uma divida tão grande e ainda fosse submetida a uma cesárea desnecessária? Com que finanças e estado psicológico eu receberia essa criança e continuaria a cuidar da que já estava no meu colo?
Eu tinha a opção de parto domiciliar aqui na região, mas eu não me sentia segura, tinha medo de mais uma vez precisar de hospitalização e cair na mão de outro açougueiro, se fosse pra ser assim, eu preferia uma cesa limpinha com acompanhante e sendo tratada como gente. Mas isso me feria mortalmente, não teria outros filhos, logo nunca saberia o que é por um filho no mundo por minha conta, eu me sentia extremamente mutilada só de pensar em ir para uma cesárea eletiva.
Nessa fase eu tive a sorte de poder contar com a amizade, carinho e torcida ferrenha de pessoas que mesmo de longe conseguiram se fazer tão presentes na minha vida, mulheres incríveis que eu  conhecei na GPM do Orkut e se tornaram uma grande parte do meu alicerce nessa gravidez   e as meninas no grupo de mães de março de 2011, irmãs que acompanharem o meu sofrimento com a cesárea da Cecília e torciam muito para que Francisco viesse de forma muito diferente.  Caçaram por todos os cantos contatos de parteiras e obstetras pra mim, Jamila me ofereceu até sua casa, caso eu quisesse um PD com alguma equipe de SP. Sentia de todo o coração que elas torciam como se fosse pelo parto delas e isso foi importante demais pra mim.
Então conversei com meu marido e chegamos a conclusão de que buscaríamos um GO humanizado em SP ou São Carlos, cheguei a fazer alguns contatos, até que me lembrei que li certa vez( não me lembro onde) que existia uma parteira no litoral norte de SP. Não sabia qual cidade era, nem se era GO, EO , obstetriz ou parteira tradicional, na esperança que fosse uma obstetra, já que eu desejava um parto hospitalar,eu perguntei para Flávia Penido, e ela me  disse que era uma obstetra que atendia em São Sebastião-SP e passou o contato da Drª Bernadette, isso foi a noite e na mesma hora e ansiedade me fez procurá-la pelo face e perguntar se ela aceitava acompanhar VBAC com esse intervalo curto, prontamente ela me respondeu e lá estava a minha tão desejada luz no fim do túnel :
” Não faço restrição para VBAC por conta do intervalo, se pode com intervalo grande, pode com pequeno né?”
Senti um ímpeto de esperança imenso  e no dia seguinte eu já liguei no consultório e agendei uma consulta para  a mesma semana, antes da consulta mandei um e-mail explicando como ia a gravidez e contanto todo horror que passei no nascimento da Cecília.
Finalmente chegou o dia da consulta, foram 2 horas de viagem até São Sebastião, eu, marido e Cecília chegamos lá no finzinho da tarde e  fomos direto pro consultório.
Bernadette foi além das nossas expectativas para uma obstetra, ela não só era favorável ao parto normal, ela era uma militante da humanização, eu me senti tão acolhida e segura, apesar de não conhecer ninguém que tivesse parido com ela rolou uma empatia enorme e ela me passou muita segurança. Combinamos que eu terminaria meu pré-natal aqui em Taubaté e voltaria lá na ultimas semanas e depois só iria quando começasse o trabalho de parto.
Optei por terminar o pré-natal pelo SUS, na gravidez da Cecília eu já havia rodado todos os GOs do convênio e todos eram cesaristas insuportáveis, apesar de saber que teria meu parto com nenhum deles, eu quis evitar o stress das ultimas semanas com pérolas de útero explosivo e etc.
Por volta da 30ª semana eu percebi que quando eu auscultava o BCF do Francisco com o Doppler em casa, o foco estava sempre abaixo do meu umbigo, comecei a suspeitar que ele ainda estivesse pélvico, e com 33 semanas passei por consulta no postinho e de fato ele ainda estava pélvico, fiquei super frustrada! Agora que eu havia conseguido uma assistência legal o menino está sentado, foi um  imenso balde de água fria. Comecei imediatamente a fazer os exercícios para versão expontânea.
Teoricamente eu sabia que ele ainda tinha tempo e espaço para virar, mas não conseguia ficar calma, eu sabia que a minha obstetra acompanhava parto pélvico e era experiente nisso, mas o problema era comigo, eu tinha medo do parto pélvico, medo que só não era maior que o de ter outra cesariana.
Com todo esse stress tive alguns episódios  de hipertensão, mas que sempre normalizavam sem medicação, havia dias em que eu chegava para aula de pilates com a PA 160X110mmHg e só com exercícios de respiração ela voltava para 120X80mmHg,  logo concluí que era emocional, e isso me doeu profundamente, porque a PA alta que me levou ao hospital na gestação da Cecília possivelmente também era emocional já que a pressão pelo pós datismo me massacrava, só que eu não tive chance de me acalmar e ver se a PA normalizava, fui enviada para o hospital e meu sonho de parto domiciliar naufragou.
Mas, não era mais hora de chorar pelo parto que não tive, era hora de tentar me acalmar e ir firme em direção ao parto que eu queria ter.
  Com 34 semanas eu comecei a pensar em versão externa, fiz alguns contatos, acabei chegando até a Drª Carla Polido e quando estava prestes agendar a versão, porque a essa altura eu iria sem problemas até São Carlos desvirar esse menino, fui fazer uma USG para confirmar a posição do Francisco, quando o médico colocou o transdutor na região do fundo do útero eu já com a voz embargada perguntei se era a cabeça dele, e o médico me responde: “A não ser que o piu-piu do seu filho esteja no lugar errado, isso aqui é a bunda dele.”
Eu quase saí pulando da mesa de exame, não coube em mim tanta felicidade, da sala de USG mesmo eu avisei as meninas pelo face de que ele estava cefálico, elas estavam torcendo tanto e tão aflitas quanto eu e mereciam receber a notícia o quanto antes.
A partir daí a calmaria se instalou e consegui relaxar o finzinho da minha gestação, fomos mais uma vez a São Sebastião e acertamos com a Bernadette os últimos detalhes, levamos Cecília a praia e em casa eu fui acertando as coisas que ainda estavam pendentes para a chegada do Francisco, com 36 semanas comecei a perder o tampão bem aos poucos. Eu confesso que esperava passar da DPP, mas, quando bateram as 40 semanas e eu ainda não sentia muita coisa, fiquei ansiosa... Nesse mesmo dia perdi um pouco de tampão com sangue e comecei a sentir contrações irregulares, a essa altura a arrumação do ninho estava ferrenha aqui, eu faxinava a casa todos os dias, arrumava as gavetas, lavava pano dos cachorros e inventava coisas para fazer com a Cecília, tudo pra tentar arejar a cabeça e não ficar caçando sinais de trabalho de parto.
Com 40 e um dia comecei a sentir contrações mais doloridas, então pedi ao marido que fizesse o toque e descrevesse o que ele conseguia, expliquei para ele o que ele poderia encontrar e tomei as medidas básicas de assepsia ( lavagem das mãos e luvas) ele fez e me disse:
“Não tem mais boquinha nenhuma aqui, só uma geleia mole e um buraco”
Nesse buraco ele introduziu 2 dedos e abriu até eu sentir que tava no limite. Medimos essa abertura de dedo e deu 4,5 cm.
Levei um susto, como assim 4,5 cm e eu não sentia nada além de  modestas contraçõezinhas ?
Liguei para a Bernadette e ela achou prudente que eu pedisse para a Patrícia EO de São José dos Campos viesse me avaliar em casa, e ela veio. Na verdade eram quase 4 cm de dilatação e colo estava apagando, mas com bebê ainda alto e poderia demorar um dias.
Aquietamos-nos e continuávamos esperando, assim seguiram mais 4 dias, pintamos barriga, levamos Cecília ao shopping e no domingo, dia em que eu completava 40s + 3 dias fiquei bem nervosa, chegue a chorar com medo do pós datismo outra vez, conversei com a Hellen que havia conseguido um VBAC lindo há poucos dias, foi bom desabafar um pouco e no fim da tarde eu tentei fazer coisas que me tranqüilizavam e fui dormir. Segunda feira eu acordei mega disposta, faxinei tudo de novo, meu marido chegou do trabalho e eu quis ir bater perna na rua, Cecília ia ficar em um hotel com a moça que nos ajuda em casa e eu precisava de uma jarra de vidro para esquentar a água do mamá dela no microondas do hotel.
Comprei a jarra, bati mta perna em lojas e comprei uns brinquedinhos pra Cecília levar, comprei ração para os bichos de casa, deixei a chave com a moça que viria tratar deles na minha ausência, cheguei em casa tomei banho correndo e fui pra aula de pilates, voltamos para a casa por volta de 21:30 e Cecília estava com sono, como ela havia adormecido, e eu estava DOIDA de vontade de comer um sashimi de agulhão de um restaurante japonês perto de casa, colocamos ela no carrinho e fomos. Não faltava  mais nada para arrumar, estávamos apenas esperando o Francisco dar o sinal de que estava vindo.
Entramos no restaurante e fizemos o pedido, assim que chegou à mesa eu ataquei o sashimi, quando ia colocar o segundo pedaço na boca senti um tranco no colo do útero, parecia um encaixe daqueles botões de pressão de jaqueta. Achei mto estranho e tentei me mexer na cadeira, e então foi água para todo lado.  A sensação de Felicidade e euforia que senti é inexplicável. Olhei espantada para o meu marido e disse: “A bolsa estourou!!” Ele riu e disse: Deixa de ser pentelha vai, mas já com os olhos estalados, então ele olhou embaixo da mesa e já levantou desesperado RS..rs.. Não sabia pra onde correr, eu o acalmei, chamei o garçom e pedi a conta, quando se deram conta do que estava acontecendo o restaurante todo se alvoroçou,  parecia que ia nascer ali dentro mesmo.
Saímos e liguei para a Bernadette, ela perguntou como estava o liquido e eu disse que estava abundante, clarinho e sem grumos, então ela disse  para eu ficar calma que o Francisco estava vindo,  que nos esperava lá e era para telefonar de novo quando estivéssemos chegando.
Fomos para casa, colocamos as coisas no carro e Cecília ainda dormia, a colocamos na cadeira e fomos buscar a Carol, que tomaria conta dela no hotel. Por volta de meia noite saímos de Taubaté, eu estava abismada com a quantidade líquido amniótico que eu ainda tinha, lavei o chão do restaurante e estava molhando uma toalha de banho que forrei o banco do carro.
Pegamos uma ventania e uma chuva horrível na estrada, eu estava super tranqüila, mas meu marido por mais preparado que parecia estar, ficou uma pilha. Durante a viagem  eu fui enviando sms para as meninas e comecei a sentir umas contrações bem doloridas, mas espaçadas. Chegamos em São Sebastião 02h:30, fui pro hotel acomodar a Cecília e liguei avisando a Drª Bernadette que eu havia chego, ela disse que estava indo pro hospital me esperar.
Fizemos o check-in, eu tomei um banho e arrumei as coisinhas da Cecília fiz minhas recomendações à Carol, deixei a listinha das atividades dela durante o dia e chegou o momento mais difícil, Cecília estava acordada e eu precisava sair para ir para o hospital, pois meu marido estava quase parindo 2 filhos de ansiedade.
Cecília tava sentadinha na cama brincando com um livrinho de banho, eu olhei para ela e meu coração doeu tanto, era a ultima vez que a via como meu único bebê, segurei a mãozinha dela e enchi ela de beijos, pedi perdão por tudo o que viria depois, por  todas as vezes em que ela sentiria falta da minha atenção exclusiva.  Meu Deus...Como doeu sair daquele quarto e deixar ela para trás, em 1 ano, 2 meses e 23 dias eu nunca havia dormido longe dela.
Ela parecia entender o que acontecia, meu deu um beijo e nem chorou quando sai, eu fiz o trajeto todo sem conseguir dar uma palavra, só conseguia chorar pela saudade que eu sentiria dela.
Chegamos no hospital junto com a Bernadette, meu marido só se acalmou quando a viu, eram mais de 03h:00 uma chuva gelada caindo e ela estava esbanjando bom humor e super entusiasmada com a chegada do Francisco.  Fui para dentro com ela e meu marido ficou na recepção fazendo minha ficha. Ela me examinou e estava tudo tranqüilo, quase 5 cm de dilatação, BCF ok e líquido claro. Fomos para o quarto e eu e Raphael fomos dormir.  Por volta de 05h:00 Acordei com um pouco de dor, meu marido foi tomar um café na padaria próxima ao hospital com a Bernadette e eu fui tomar um banho quente.
Eles voltaram um tempo depois e me trouxeram um lanche, Raphael ficou mais um tempo comigo e eu pedi que ele fosse pro hotel ficar com a Cecília, ajudar a dar café da manhã pra ela e essas coisas e mais tarde voltaria trazendo minha bola e meu radinho com as músicas que selecionei para o parto, Bernadette me disse que estaria o tempo todo no hospital e se eu precisasse era só mandar chamar.
Eu dormi novamente e só acordei por volta das 09:00 com a verificação dos sinais vitais de rotina do setor, tomei café da manhã e não dormi mais, logo meu marido chegou com as coisas que eu pedi. As contrações iam e vinham e a dor delas era absolutamente suportáveis, eu comecei a pedir que meu marido fosse fazer coisas fora do hospital, pedi sorvete, pedi uma revista, pedi pra ir ver Cecília de novo, então percebi que o que eu desejava era ficar sozinha, eu precisava do meu momento de introspecção, algo incrível aconteceria comigo naquele dia e eu precisava me preparar para isso. Expliquei isso à ele e pedi que fosse pro hotel.
Com luzes apagadas eu fiquei sentada na bola, com os braços e a cabeça apoiados na cama ouvindo as músicas que eu levei, algumas me remetiam ao desejo de ver meu filho e ter o meu parto, outras me remetiam a momentos distantes da minha vida, momentos felizes, outros tristes... Alí fui exorcizando todos os meus medos, fui encerrando ciclos antigos os quais a anos eu me recusava a mexer, chorei bastante, senti saudade da minha mãe, lamentei estar morando longe do meu pai e não poder ter ele por perto participando do crescimento dos meus filhos, questionei Deus sobre os gêmeos que havia perdido há anos atrás, mas por incrível que pareça em momento algum senti medo da ruptura uterina que me assombrou durante toda a gestação e logo as contrações começaram a ficar mais próximas e doloridas, mas nada que se parecesse com trabalho de parto ativo. Por volta de 12h:00 Bernadette auscultou o BCF e conversamos um pouco, ela ia dar uma passada no consultório e voltaria logo, então eu pedi que fizesse o toque pra ter uma noção de como estava a dilatação, estávamos em 7 cm e eu espantada porque imaginei que sentiria muita dor até alcançar essa dilatação e no entanto eram só contrações suportáveis e espaçadas.
Voltei a meu momento de introspecção e as dores começaram a vir com mais força, quando percebi que estava brigando com a dor da contração fui pro chuveiro, nisso veio o almoço eu sai, comi, entrei no face pelo celular e dei um alô para as meninas que estavam eufóricas com o meu trabalho de parto e fui ficar mais um tempo na bola.
Por volta de 13h:30 as dores foram apertando eu fui pro chuveiro e não sai mais, liguei pro meu marido e disse que ele podia voltar porque eu não queria mais ficar sozinha, acho que em 15 minutos ele chegou, eu já estava sentindo contrações a cada 5 minutos, levei a bola pra baixo do chuveiro e lá fiquei, Bernadette chegou em seguida e ficaram os 2 conversando comigo da porta do banheiro e eu no chuveiro. Conversávamos sobre várias coisas, entre uma contração e outra eu ria muito, falamos sobre pérolas dos cesaristas, sobre os cachorros de casa, sobre filhos que vieram um atrás do outro enfim...
Por volta de 14:40 as contrações chegaram ao que eu chamaria de insuportável, eu agachava e respirava quando elas vinham e isso ajudava muito, nessa altura eu já estava chorando de dor,
Conseguia juntar na mesma frase puta que o pariu, meu Deus do céu, Nossa Senhora e “Caralho como isso dói!!”
Tentava sair do chuveiro para auscultarmos o BFC mas não conseguia, chegava até a porta do banheiro e vinha outra contração que me fazia correr pro chuveiro de novo. Com muito custo e concentração eu consegui sair, BCF ok e Bernadette fizeram o toque de novo e disse: Já está quase na hora, você decide se quer que nasça aqui ou se quer ir pro centro de parto.
Fiquei ali por mais um tempo e comecei a ficar cansada, o chuveiro do centro de parto tinha barras e era mais espaçoso então fui pra lá. Subi andando de camisola aberta e gritando palavrão RS..rs.. Passamos por outras gestante em trabalho de parto que estavam no leito e entrei no banheiro, liguei meu radinho e mergulhei de cabeça nas contrações, doía demais, mas eu soltava o corpo segurava na barra que estava atrás de mim e me agachava a cada contração que vinha, por dentro eu agradecia muito a Deus por estar conseguindo passar por tudo aquilo, agradecia por tudo ter dado certo e por estar muito perto de ter meu filho nos braços.  Eu já estava gritando bem alto nessa altura, meu marido de olhos arregalados não dizia muita coisa, Bernadette foi vestir a roupa privativa e logo eu pedi para chamá-la porque começou a cair muito sangue no chão, nisso eu já dizia que não agüentava mais, que se demorasse muito mais para ele nascer que eu não suportaria. Então ela muito calma me pediu para ver se eu sentia o Francisco, mal coloquei a mão na vagina e senti a cabeça dele muito baixa, estava quase saindo mesmo. Uffa que injeção de animo, meu cansaço deu um trégua e eu parei de reclama, mas estava muito cansada, quis sair do chuveiro e me sentar no vaso sanitário, também não estava bom assim e pedi pra ir para a mesa de parto, eu queria me sentar, já não conseguia mais ficar em pé. Sai do banheiro sem nem notar que tinham mais mulheres ali em trabalho de parto, fui pelada e gritando palavrão de novo para a mesa de parto, lá pude sentar meio acocorada e segurar nas barras quando vinha a dor.
Meu marido tentando me acalmar e colocar a mão na barriga e eu gritava para ele calar a boca e tirar  mão, eu não queria ninguém com a mão em mim, e assim aconteceu. Bernadette, meu marido e a pediatra assistiam ao que eu mais desejei, eu mesma estava trazendo Francisco pro mundo. Derrepente a dor parou, acho que fiquei uns 5 minutos assim e veio o primeiro puxo, eu não acreditava que estava passando por aquilo, nisso meu marido disse que estava vendo os cabelos dele, eu senti mais uns três puxos desses e comecei a sentir dor de novo, era uma contração que doía e também o círculo de fogo, doía demais e eu acho que por duas vezes gritei que queria anestesia, que queria ir embora dalí e eles me diziam ele está nascendo, ajude o Francisco a sair por que ele está nascendo, mas me bateu um cansaço tão grande que sai do ar, ouvia a voz deles de longe e enxergava tudo embaçado, comecei a vocalizar sem qualquer controle e dessa parte não me lembro, nisso o circulo de fogo veio com tudo comecei a fazer força, mas cheguei a pensar que ele não sairia, olhei para a Bernadette e disse doutoura eu vou parir, ela sorriu dizendo vai sim! Vai parir o Francisco e a Cecília Thaís, força mulher trás o seu filho pro mundo! Nisso fiz uma força que nem eu sabia existia em mim e senti o Francisco escorregando para fora, Bernadette pegou ele com um campo e me entregou. Ele nasceu sem chorar, só deu um resmungo e me olhou com dois olhos tão vivos que me fizeram sentir minúscula diante da grandeza daquele olhar.
Foi o momento mais feliz da minha vida, eu não acreditava que estava passando por tudo aqui, era tão perfeito que chegava a ser surreal.
Francisco dormiu no meu colo e logo senti a placenta saindo, não doía mais nada, só uma sensação boa e quente de parir a raiz que sustentou o meu filho por todos esses meses.
Francisco foi avaliado bem rapidinho com o pai dele junto e já voltou pro meu colo.
Tive uma laceração porque fiz força fora dos puxos, mas nada que tirasse o brilho daquele momento maravilhoso. Sai da mesa de parto andando e fui pro leito do centro de parto e ali fiquei com Francisco até irmos pro quarto.
Pela primeira vez eu não amaldiçoei a cesárea desnecessária que sofri, graças a ela eu pude enxergar toda  a grandeza de parir um filho após uma cesariana recente nesse pais que conta um sistema obstétrico podre e mentiroso.
Existem sim muitas maçãs podres, mas cada obstetra de fato humanizado que tenha proporcionado a uma mulher a felicidade que a doutora Bernadette Bousada me proporcionou quando acreditou na minha capacidade de parir meu filho vale por centenas dessas maçãs podres.
Serei eternamente grata a Deus por ter tido a dádiva de parir um filho com respeito!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Mandiokejo - queijo vegano

De todas as vezes que eu tentei me tornar vegana, acho que essa foi a mais gostosa. Há 3/4 anos atrás, não existiam muitas receitas que substituíssem os queijos, e pra todo mundo que é viciado nesse alimento, a dificuldade pra parar aumenta quando esfregam um pedaço de pizza na sua cara.

Pois bem, eis que, como lactante mãe de alérgica (sim, Aurora ainda mama e se tudo der certo vai continuar mamando até o dia que ela decidir parar), eu também tenho que fazer a dieta de exclusão de laticínios. Daí que andando nas comunidades de alérgicos, eis que me deparo com essa novidade: queijo vegetal!
O mandiokejo é um preparado em pó que você mistura e vira esse queijo maravilhoso da foto. Dá pra rechear pães, pizzas, fazer pão-de-queijo, risoles, risotos, enfim, TUDO! <3
É muito amor poder comprar isso! Sério!
Ele vem em pózinho, ou seja, você pode pedir pelo correio que ele já chega perfeitinho e é só misturar e usar.

Quando eu descobrí que isso existia, pensei: "Finalmente os brasileiros entenderam que se eles querem que o veganismo seja mais acessível e gostoso, vão ter que botar a mão na massa". Pra quem não conhece, no exterior essas opções podem ser compradas em vários mercados, e você tem desde "queijo falso" a presunto vegetal, e aqui esses produtos só começaram a chegar ano passado.

Não fica exatamente igual ao queijo, mas também é muito gostoso e é uma opção mára pra quem tem alergia à proteína do leite de vaca ou pra quem é vegano.

Tem pra vender AQUI


ha, ele é enriquecido com B12 e outros nutrientes!!!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sem açúcar, com afeto.

Essa semana saiu na internet um vídeo chocante e estarrecedor sobre a qualidade (a falta dela, na verdade) da alimentação das crianças brasileiras, quem curtiu a página do blog deve ter acompanhado a postagem do vídeo aqui. Quem é mãe um pouquinho mais cri cri já deve ter reparado tudo o que o vídeo fala, mas quem não reparou ainda ou não sabe interpretar tabelas complicas de composição de alimentos e ingredientes mil, vale muito a pena assistir. O vídeo está disponível nessa página e aqui embaixo eu vou colocar o trailler pra vocês ficarem com um gostinho de quero mais:

O documentário trata, com uma abordagem muito legal, algumas das coisas que tem dentro das comidas tradicionalmente "infantis", sobre como as crianças comem, o que comem e quais problemas uma alimentação recheada de salgadinhos do tipo "porcaritos" e coca-cola podem fazer com que a expectativa de vida da nova geração seja mais baixa do que a nossa. É chocante!

Há alguns meses atrás, eu e o Lu assistimos o "Food Revolution", um programa do chef inglês Jamie Oliver em que ele vai pra uma cidade com o maior índice de obesidade e morte em decorrência de complicações por excesso de comida dos EUA e tenta ensinar as pessoas a cozinharem comida melhor. Em várias partes a gente fica morrendo de nojo, porque ele mostra como são feitos os nuggets e a maior parte das comidas processadas que a gente come. Quando assistimos, ficou aquela imagem de que aquela realidade era muito longe da nossa e etc, mas ao assistir o documentário "Muito além do peso", fica claro pra gente que a globalização de junkie food já chegou até a comunidades indígenas. Se você quiser baixar a série "Food revolution", dá pra baixar o torrent aqui.

Um dos principais problemas associados com a obesidade é, sem dúvidas, o sedentarismo. As crianças não brincam mais na rua, não correm, ficam trancadas em cercadinhos, presas em andadores ou então na frente da TV e do PC. Eu mesma sou dessa geração: meus avós vira e mexe faziam as minhas vontades e compravam um caminhão de comida "de criança". Meu avô chegava ao cúmulo de adoçar a minha mamadeira com QUATRO dedos de açúcar. Muito da minha infância foi vendo He-man, Inspetor Buginganga, Punky a levada da breca, TV colosso e outros clássicos da Tv aberta, e pelo que eu noto, a geração seguinte à minha está deveras pior.

A gente que é pai e mãe sabe o quanto é complicado deixar o filho brincar na rua com assaltos, sequestros, pedófilos, acidentes de trânsito e a falta de segurança em geral, então acaba que nos rendemos aos programas de tv e jogos eletrônicos como forma de manter as crianças em casa. Em geral, os pais trabalham o dia inteiro, e o que eu vejo de muitas famílias que eu tenho contato próximo é que as crianças ficam em casa na frente da telinha umas 6h por dia. Quem já parou pra assistir os canais infantis ou mesmo a programação da tv aberta na hora "das crianças" já notou a quantidade absurdade propagandas! Eu ADORO desenho, mas pra mim é insuportável assistir 30min de discovery kids, por exemplo. Um dia eu tava assistindo um desenho e até eu fiquei com vontade de ter uma barbie e ir comer no Mc Donald's. Sério, é absurda a quantidade de propaganda. Eu contei 5min de desenho e e quase o dobro de propagandas. Fora que, durante o desenho, eles diminuem o som, o que faz com que vc tenha que aumentar o volume da TV, daí durante os comerciais eles voltam a aumentar o som e fica praticamente impossível ignorar o novo Max Steel faz-até-o-seu-dever-de-casa. Você não fala com o seu filho, porque tá ocupado trabalhando, mas a propaganda fala com ele, e ela fala o dia inteiro. No final do dia, com toda a energia acumulada durante horas com a bunda no sofá e frustrada, a criança vai descontar no mais óbvio e rápido, justamente naquilo que ela passou o dia inteiro ouvindo a TV falar que ía trazer uma sensação de bem-estare saciedade: consumo! Os alvos preferenciais são as comidas açucaradas, as bolachas recheadas e os embutidos, e isso faz tão mal que o documentário mostra crianças de 4 anos (isso mesmo, vc leu certo, quatro anos) com trombose, diabetes e problema no coração por causa de comida.

Aqui em casa percebemos isso acontecendo, em menores proporções, bem cedo: por volta de 1 ano, eu assistia o programa de culinária da Gazeta toda tarde, e notei que Aurora começou a brincar menos e subir no sofá pra ver comigo. Combinei com o Lu de só ligarmos a tv quando ela dormisse porque a programação é completamente inadequada pra idade dela. Chegou a um ponto em que nós nos demos conta de que não víamos mais tv e que ela só servia pra "fazer barulho". Como aqui em Lavras só pega os canais se vc tiver parabólica ou tv a cabo, cancelamos a tv a cabo e agora temos um aparelho na sala que serve de cama de gato e pra eventuais partidas de vídeo-game. Assim agente evita que Aurora vire um zumbí e que a gente morra alienado. Tem quase 1 ano que não assistimos tv em casa, só na casa de parentes, e olha, vou te dizer, quando eu tenho o desprazer de passar em algum lugar que esteja passando o jornal nacional ou coisa que o valha, tenho vontade de vomitar com a quantidade de mentiras e notícias importantes que eles omitem. Não que eu não assista mais besteiras (eu adoro seriados americanos, filmes trash e outras bobagens) e Aurora assiste sim alguns filmes, mas não como antes. O reflexo disso, pelo menos na minha casa, é uma criança muito mais desperta e que interage o tempo todo. Cansa pra caramba, mas vale muito a pena. Só de ir ao mercado e não ter que ouvir um escândalo em prol de algum doce com brinquedo, vale todo o esforço.

Eu super entendo que comprar uma latinha e esquentar no microondas seja muito mais fácil, principalmente quando você passa o dia inteiro na rua e não tem quem cozinhe pra você, acredito mesmo que muitas mães que dão processados pras crianças não sabem o que tem na maior parte daquelas caixinhas (eu não sabia) e que a gente dá essas coisas com a melhor das intenções, crente que tá fazendo um agrado pra criança (afinal, nenhuma pessoa normal faz mal ao próprio filho deliberadamente, mas no final das contas tá dando um alimento extremamente prejudicial e que muitas vezes pode até causar necrose intestinal (como é o caso das papinhas industrializadas, que levam uma substância chamada "fumarato ferroso" e que eu já comentei aqui). Então, o que eu vou tentar fazer se as 100mil matérias que eu tô fazendo na faculdade me permitirem, é tentar dar alternativas práticas e gostosas pra gente lidar com a falta de tempo e oferecer alimentos de qualidade pras crianças. :) Aguardem as cenas dos próximos capítulos!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O relato da Juliana - Parto normal após cesárea com troca de obstetra durante o trabalho de parto!


"Não imaginava que eu teria um segundo filho, não imaginava que eu teria um dia um parto normal, não imaginava que esse parto seria tão intenso e nem muito menos que a história teria tanta repercussão. Muito se comenta, muito se conta, muito se fala. Muitos comentários sem sentido, sem saber do que de fato aconteceu. Mas a minha história só eu sei.....e é essa:

Eu não planejava ter um segundo filho. Tomava anticoncepcional, mas quando a cartela do mês acabou e a menstruação não veio suspeitei imediatamente da gravidez. Descobri que estava grávida pela segunda vez no dia 18/08/2011, eu estava com apenas 3 semanas de gestação.  No início foi difícil aceitar que agora eu seria mãe de dois, pois eu larguei o emprego para cuidar do meu primeiro filho, que nessa época já tinha 3 anos e eu estava me reorganizando para retomar a vida profissional. E de repente, tudo mudou!
Com aproximadamente 15 semanas, já feliz com a gestação e fazendo planos para a chegada do bebê eu fui convidada pela minha irmã Luciana para ir a um grupo de gestantes, o Ishtar. Assim como a grande maioria das mulheres eu não tinha informação alguma sobre parto normal e natural e acreditava que cesárea era algo comum e perfeitamente aceitável. Meu primeiro filho nasceu através de uma cesareana eletiva, com 36 semanas de gestação, no dia 28/12/2007 (o motivo hoje eu sei: conveniência médica).
Bastou apenas um encontro para que o meu conceito mudasse. Cheguei caladinha, de mansinho, ouvindo e observando as conversas das meninas e os relatos das mães que tiveram e que desejavam ter um parto. Eu decidi: também quero isso para mim!! Ao final do encontro já comecei a buscar contatos de doulas e de médicos. Só havia um médico que atendia ao meu plano de saúde, mas era em outra cidade. Eu não tinha condições de pagar por um pré-natal e parto particular, pois em casa somente meu marido trabalhava. No início foi muito difícil convencer o meu marido de que seria necessário ir para Niterói para ter um parto. Tendo um plano de saúde considerado bom ele não compreendia porque eu não podia escolher um médico que atendesse o convenio na própria cidade. Depois de muitas conversas (e de passar por algumas consultas com médicos do convenio no Rio de Janeiro) ele finalmente entendeu que se eu realmente quisesse ter um parto normal eu precisaria de um médico topasse acompanhar. Afinal, eu já tinha uma cesárea anterior e a justificativa dos médicos era sempre a mesma: uma vez cesárea, sempre cesárea. Decidimos então marcar a consulta com o médico de Niterói. Segundo relatos ele tinha histórico de ter acompanhado alguns partos após cesárea então se ele topasse fazer meu pré-natal eu tinha chances maiores do que com qualquer outro médico de convênio. Durante todas as consultas de pré-natal ele não demonstrou nenhuma objeção ao parto. Sempre muito educado, respondia meus questionamentos e aceitava todas as condições propostas por mim.
Assim, tranquilamente, se passaram 38 semanas. Na última consulta, ele comentou durante os exames que o bebê ainda estava alto, por isso acreditava que o bebê nasceria somente próximo da minha DPP, que era dia 21/04/2012. O bebê estava bem e eu também. Porém, ele solicitou que eu fizesse uma utrassonografia com 39 semanas, alegando que “você tem como saber se está se sentindo bem, mas nós não temos como saber se o bebê está realmente bem aí dentro”.  Essas palavras me deixaram um pouco confusa, já que passei a gestação inteira estudando bastante e sabia que em gestação de baixo risco, nenhuma ultrassom era necessária após as 24 semanas. Além disso, ele me liberou da consulta da semana seguinte (39 semanas) justamente porque o bebê estava bem clinicamente e eu também. Então pensei: afinal, tem ou não tem como saber se o bebê está bem? Se houvesse alguma suspeita de problema eu deveria voltar na semana seguinte, não? Qual teria sido o motivo da ultrassom? Decidi marcar a ultrassom para o dia 24/04/2012, data em que eu já estaria com 40 semanas completas e sabia que a partir daí era realmente necessário um acompanhamento mais cuidadoso.
No dia 17/04/2012 por volta das 19hs da noite, comecei a ter pródromos. Eu já havia tido algumas noites anteriores de pródromos então acreditei que seria só mais uma noite como aquelas e que o trabalho de parto ainda não iria engrenar. Comi, tomei banho e fui dormir.
Por volta das 2hs da manhã eu já estava muito incomodada, ficar deitada era impossível. Levantei e fui ao banheiro, percebi na calcinha um pequeno sangramento e fiquei eufórica: AGORA VAI!!! Continuei sozinha, tentando relaxar e segurar a ansiedade, mas por volta das 4hs da manhã eu já sentia que precisava de companhia. Liguei para a minha irmã que também era minha doula, que veio imediatamente para a minha casa. Eu estava muito agitada e queria caminhar. Saímos então para caminhar ao ar livre no condomínio. A cena era até engraçada... duas “loucas” caminhando sem rumo em plena madrugada. Durante a gestação eu havia decidido contratar uma “segunda doula”, pois a minha irmã poderia ficar muito envolvida emocionalmente (por ser o nascimento do sobrinho). Por volta de 7hs da manhã, decidi então ligar a para a doula Ana. Enquanto aguardava a chegada dela a minha irmã foi comprar pão para tomarmos café, afinal eu precisava me alimentar, ainda havia muito trabalho a ser feito! A Ana chegou por volta das 8hs e tomamos café todas juntas, entre as contrações, que nessa altura ainda vinham bastante espaçadas (cerca de 15 minutos de intervalo).
Meu marido foi trabalhar normalmente. E assim ficamos durante todo o dia, almoçamos, caminhamos mais. Relaxei, ouvi musicas (eu havia gravado um CD para o momento da chegada do meu bebê)... Chorei ao ouvir a musica de Chico Cesár – Quando eu fecho os olhos. Eu não podia acreditar que tudo estava dando certo e que em breve eu conheceria o rostinho do meu bebê.
O tampão saiu por volta das 15hs.
Meu marido chegou em casa por volta das 16hs e começamos a discutir a ida para o hospital, já que morávamos longe e pegaríamos muito transito na ponte Rio-Niterói (a hora de rush estava próxima). Tomamos banho e nos preparamos. Decidimos sair de casa às 17:30 hs. As contrações vinham em intervalos menores, mas eu ainda estava bem. Eu sabia que ainda não estava em estado avançado de trabalho de parto, mas me senti mais segura e confortável indo para o hospital naquele momento. O principal motivo dessa decisão foi o fato de que ficar horas praticamente imóvel dentro de um carro e parada no transito me parecia algo terrível para uma mulher em trabalho de parto, quanto antes eu fizesse isso melhor seria para mim! Chegamos ao hospital pouco mais de 19hs. O médico ainda não havia chegado. Esperamos na recepção e ele logo chegou. Fomos para uma salinha onde eu seria examinada. Após um exame rápido ele me falou “eu não queria te desanimar, mas você está somente com 1 dedinho de dilatação e o bebê ainda está no plano 0 da pelve.” Eu não acreditei que após um dia inteiro de contrações eu só havia evoluído 1 cm. Fiquei muito frustrada naquele momento, mas respirei fundo e segui em frente. Eu queria muito aquele parto. Os batimentos do bebê estavam OK e isso me deixou tranqüila para continuar. Comentamos sobre a hipótese de voltar para a casa. O médico disse que de fato recomendaria isso se eu morasse na mesma cidade, mas como morávamos no Rio de Janeiro talvez fosse mais confortável ficarmos hospedados no hospital enquanto aguardávamos a evolução do trabalho de parto.  Eu concordei prontamente, pois não desejava passar horas carro novamente, foi muito incômodo (eu tinha dado graças a Deus por ter chegado...rsrs).
Meu marido foi junto com o médico dar entrada na internação. Havíamos feito um acordo de que o parto seria feito  no próprio quarto do hospital, mas não sabíamos se de fato o médico conseguiria essa liberação. Fiquei ainda na recepção com a Ana e a minha irmã, aguardando. O desconforto aumentava cada vez mais e meu marido demorou muito para voltar. Tudo que eu queria era ir para o quarto, o chuveiro, o conforto. Pedi então que a minha irmã fosse atrás dele, para saber o motivo da demora. Quando ela voltou eu percebi que ela estava com uma cara um pouco estranha. Pensei que havia tido algum problema com a liberação de fazer o parto no quarto e falei logo “ me fala o que aconteceu, não me esconda nada”. De inicio ela relutou a me contar, pois não queria me chatear, eu insisti que não queria ficar ali fazendo papel de boba e ela então me contou: “mana, o médico conversou com o Marcelo, por isso a demora. Ele disse que se essa dilatação não evoluir em 2 horas vai ser feita uma cesareana. Por isso o Marcelo nem soube me informar nada a respeito do parto no quarto, ele na verdade já está pensando em como vai te tranqüilizar a respeito da cesárea. Ele ta um pouco assustado”. Fiquei um pouco confusa com isso tudo, pois o médico desde o inicio me pareceu tão confiável. Eu falei pra minha irmã “me ajuda, eu não quero essa cesárea”. Mal terminei de falar e vi no final do corredor o meu marido, ao lado do médico, me chamando para irmos para o quarto. Já que eu estava ali, o jeito era torcer e seguir em frente. Subimos e eu fui logo tirar a minha roupa e me dirigi ao banheiro, fui para o chuveiro e fiquei lá tentando me acalmar. Algum tempo depois minha irmã entrou no banheiro e me perguntou “ mana, você já sabe qual é a situação. Temos 2 horas para tomar uma decisão. Você quer ficar no hospital ou quer ir embora?Quer aguardar ele voltar e esperar um novo exame para saber se evoluiu?”  eu respondi “eu não quero ir de novo para aquele carro”. Ela continuou calmamente me falando “tudo bem, mas se o médico voltar e estiver tudo do mesmo jeito ele irá te operar. Você quer tentar uma segunda desopção ou você prefere fazer a cesárea?” Fiquei irritada por ela cogitar essa possibilidade de cesárea e respondi até com um tom um pouco alto “claro que não, eu não quero cesárea, ele não vai fazer cesárea, ele vai ter que esperar, eu vou mandar ele esperar. 2 horas não é nada!” 
O tempo passou... mas as contrações ao invés de ficarem mais fortes foram ficando mais espaçadas e fracas. Cheguei a ficar 30 minutos sem ter uma contração!!Entrei em desespero, a cesárea era certa se eu continuasse ali. Estava se aproximando a hora do médico voltar e eu já estava cogitando a possibilidade de pedir para que ele me liberasse para ir para casa. Por outro lado, eu estava me sentindo muito insegura e desamparada pelo médico e se eu fosse embora para o Rio de Janeiro novamente eu definitivamente não queria voltar para Niterói de encontro com uma possível cesárea. Eu estava assustada, insegura. Minha irmã repetia a todo momento “você não está desamparada, estamos todos contigo!”. Isso me confortava, mas não me acalmava. Pedi que a minha irmã ligasse para uma amiga nossa muito querida e engajada na causa do parto e nascimento, para saber se a essa altura do campeonato ainda havia alguma outra possibilidade de médico caso eu resolvesse ir embora. Aí começou uma movimentação de telefonemas, entra e saí do quarto. Meu marido, minha irmã (e doula querida!) e a minha doula..correndo contra o relógio para tentarmos tomar uma decisão que me deixasse mais segura. Infelizmente, enquanto eu continuasse ali naquele hospital eu estava já assistida por um médico e sob hipótese alguma outro médico poderia pegar o meu caso. Dividida entre continuar ali e brigar com o médico para que ele me desse mais um tempo ou largar tudo sem rumo e sem assistência e o pior..entrar de novo naquele carro!Muitas coisas passavam pela minha cabeça, Falei com a minha amiga ao telefone, que repetiu tudo aquilo que a minha irmã já havia me falado (em outras palavras). Enquanto eu continuasse ali ela não tinha como me ajudar, a decisão era minha. Eram essas as minhas duas opções. Sair de lá e tentar, ficar lá e aceitar. Mas eu ainda não conseguia acreditar que o médico em que eu tanto confiei não levaria até o final essa história. Foi quando ouvi a voz dele no corredor. Eu ainda tinha esperança de convencê-lo, pedi para que a minha irmã fosse conversar com ele para sentir em que ritmo ele estava. Ela voltou desanimada, ele vinha logo atrás dela. Não deu tempo de que ela me contasse a conversa que teve com ele (só fiquei sabendo depois do nascimento do Pedro)..ela apenas me falou “ele ta vindo, vai te examinar e vai te falar da cesárea!”. Agora era a hora, não tinha mais volta. Respirei fundo!
Deitei e fui examinada de novo. Disse que eu permanecia com apenas 1 cm e que queria avaliar o batimento do bebê durante uma contração..mas a contração não vinha!!!Enquanto isso, fora do quarto, meu marido ainda estava se acalmando e conversando com a nossa amiga Ingrid a respeito da nossa saída do hospital, quais eram as nossas possibilidades? Tínhamos 3: hospital publico, plantonista de convenio, medico particular. Naquele momento eu só pensava em uma coisa: quero parir. O médico chegou a brincar dizendo que a contração não vinha porque ele tava lá, o bebê devia estar com vergonha ou com medo dele (e acho que ele estava mesmo certo, viu!!rs). Ele saiu do quarto alguns segundos, voltou, ficou bastante tempo no quarto, conversamos sobre novelas, etc....e nada da contração. Fora das contrações os batimentos estavam OK, mas a dilatação não tinha evoluído como ele desejava. Meu marido voltou para o quarto, minha irmã e minha doula também estavam comigo. Ficamos todos em silêncio e então eu falei “Dr, eu quero voltar para casa, ficar em casa e esperar a dilatação evoluir e ai eu decido o que fazer. Se for preciso vir de novo para Niterói eu venho!!”. A resposta que eu queria ouvir (sim, pode ir) não veio (como eu imaginava que não viria). Ao contrário, ele começou a falar e falar e falar... coisas cada vez mais assustadoras. Eu queria sumir!!
- Infelizmente eu não posso te deixar ir. Eu até havia comentado com o seu marido ali embaixo. Não quis te falar para não te deixar preocupada, mas quando te examinei pela primeira vez eu vi um sinal que me deixou muito preocupado. Há uma reentança no seu útero que indica um risco elevado de ruptura uterina. Esse sinal é conhecido como Anel de Bandl. É o primeiro sinal que a gente detecta de que provavelmente o útero vai romper.
Enquanto ele falava isso meu coração disparava, meu bebê mexia sem parar, eu rezava e pedia que Deus me ajudasse a tomar a decisão certa.  Eu tava ali deitada, me sentindo impotente.
Eu olhava nos olhos dele enquanto ele falava aquelas palavras...e Deus...eu não conseguia ver sinceridade. Aquela sinceridade e segurança que me passou durante todo o pré-natal, EU NÃO VIA, EU NÃO SENTIA! Para onde foi aquele medico que conheci?Porque ele estava me aterrorizando? Porque ele não me deixava ir?porque ele queria me operar? Aquilo só podia ser um pesadelo!!
Minha irmã estava aflita, junto comigo (temos uma conexão muito forte uma com a outra). Ela comentou com ele que a minha cicatriz tinha mesmo aquela “ reentrança” desde sempre. Mas ele respondeu
- Ah, mas agora ta tudo perfeito, só aparece quando contrai!
Perguntei para a minha irmã
- Lu, você ta vendo alguma coisa?não mente para mim, me fala!
Finalmente veio uma contração, ele não auscultou o bebê mas avaliou a cicatriz. Em meio a dor eu pedi para a minha irmã “ olha Lu, ve se ta tudo bem”. Tudo que ela queria era me manter calma, segurando na minha mão ela respondeu com um sorriso “ta tudo otimo na sua cicatriz e na sua barriga e com seu bebe, vai dar tudo certo, relaxa.” O médico respondeu “ realmente agora está melhor, quando olhei na primeira vez o sinal estava muito mais evidente” .
Eu havia lido durante a gestação sobre os sinais de ruptura. Sabia que a chance era muito baixa mas de qualquer forma eu estudei sobre os sinais: dores que não passam mesmo entre as contrações, anel de bandl. Nesses casos a cirurgia deveria ser emergencial, pois mãe e bebe poderiam morrer. Eu estava super bem, tava feliz, o bebe tava ótimo e o medico apesar de todo o terror parecia super tranqüilo. Ué, será que eu esqueci de estudar alguma coisa?será que existia algum outro sinal mais primitivo que somente ele poderia ter observado?sera que havia um “sinal de um sinal” ???
Perguntei para ele mais uma vez
- Então, se está tudo bem e eu não evolui, posso ir embora???
Mas não teve jeito. Ele continuou
- Olha, eu não posso te deixar ir. Eu realmente fiquei preocupado, eu sou uma pessoa muito difícil de se preocupar e que tem um limite que demora a chegar e você sabe bem disso!Mas dessa vez eu realmente estou preocupado e por mim você não vai sair daqui. Eu não sei se estou traumatizado porque duas semanas atrás tivemos um caso de ruptura e eu não quero passar por isso de novo. Eu vi o sinal igual ao seu e fizemos uma cesárea...quando abrimos tinha realmente ruptura!
Era a hora de tomar uma decisão. Realizar o meu sonho ou fazer a cesárea?Todos os meus medos vieram a tona. Eu não queria de forma alguma colocar a minha vida e a vida do meu filho em risco. Esse foi o momento de maior desespero que passei em todo o meu trabalho de parto, para não dizer em toda a minha vida. Entrei em pânico, chorei desesperadamente como um bebezinho. O medico em pé na minha frente aguardando uma decisão. Eu sentada na cama, meu marido e minha irmã ao meu lado me fazendo carinho. Apesar da convicção de que eu e meu bebê estávamos bem eu pensava “mas e se daqui a pouco não estivermos?e se ele estiver certo?” no fundo eu sentia que as palavras dele não eram verdadeiras, eu via no olhar dele. Mas ELE É MEDICO, se eu não podia confiar nele, em quem confiar?Chorei por vários minutos, encostei ainda chorando no ombro do meu marido e desabafei
- Eu não consigo decidir!!!
Então aconteceu a maior reviravolta. Foi o momento de maior participação do meu marido. Ele tomou para si o meu parto, ele bancou o meu parto e a minha decisão. Ele fez a coisa acontecer. Em meio ao meu choro e minha indecisão meu marido se levantou e falou em voz alta
- Então é isso aí Dr. Vamos embora.
Deu um tapinha no meu ombro e continuou
- Bora mulher, para de chorar. Não é isso que você quer??Então pega suas coisas e vamos embora!Levanta!
Eu ainda não conseguia acreditar que meu marido estava abraçando aquilo junto comigo. Minha confiança voltou, eu era eu mesma novamente. Eu era a Juliana Fernandes Monteiro Duarte que queria E IA parir!!
Meu marido justificou para o médico
- Dr. É o seguinte, nós vamos embora porque ela quer um parto normal entende??
O médico respondeu
- Eu entendo. Eu sei o quanto ela quer isso, eu torci muito por ela. Mas infelizmente eu não posso ignorar um sinal que eu estou vendo. Se você quiser pode levantar agora, pegar suas coisas e ir embora. Mas EU não vou te dar alta.
-  Eu entendo. (meu marido e minha irmã responderam juntos)
Meu marido continuou
- Mas é isso aí, conforme for se precisar, se acontecer alguma coisa pelo caminho...a gente volta. Beleza?
- Vocês vão mesmo embora?
- Vamos!
- Então preciso que você assine um termo de responsabilidade.
Com minha confiança retomada respondi sem medo
- EU ASSINO!Precisa que meu marido assine também??
- Não.
Pegamos as malas, e quando já estávamos com tudo decidido e saindo do quarto ele voltou e com um sorriso leve no rosto comentou
- Olha só como a vida é engraçada. Às vezes prega umas peças na gente só para tornar tudo ainda mais difícil.
Não era possível, o que mais poderia acontecer??Perguntei
- O que foi??
- Acabei de verificar com a recepcionista. Esse é o ultimo quarto do hospital. Se vocês saírem agora e por acaso acontecer alguma emergência e precisarem retornar não sei se vou conseguir interná-la novamente, pois pode não ter mais nenhuma vaga.
Para mim não fazia a menor diferença. Então eu disse: Ok, tudo bem!
Seguimos até a recepção. Assinei o termo. Era um termo comum de responsabilidade. Dizendo que eu tinha chegado com contrações regulares mas não estava mais em trabalho de parto e tinha solicitado a alta, bla bla bla (não me lembro exatamente o que mais, eu nem olhei direito, eu so queria ir embora!). Lembro-me bem de um detalhe, nesse termo não havia nenhuma menção ao tal risco de ruptura uterina que ele havia observado. O que me tranqüilizou, pois se fosse algo realmente sério ele teria escrito.
Fomos até o elevador. Apesar de tudo o medico foi muito educado, nos levou até o elevador, se despediu e me desejou sorte. Disse que ficaria torcendo por mim.
Descemos e seguimos até o carro. No caminho eu comentei com a minha irmã que queria que alguém (outro profissional) avaliasse a minha cicatriz.
A minha doula Ana ligou então para a nossa amiga e contou que estávamos indo embora e eu desejava ser reavaliada por alguém que não fosse ele. Seguimos em direção ao Rio de Janeiro e a Ingrid (nossa amiga querida, anjo, linda!) telefonou para o celular da minha irmã dizendo que poderíamos passar na casa da Maíra, uma outra amiga linda e querida que é enfermeira obstétrica, para conversamos um pouco, acalmar, tomar uma água..e ela daria uma avaliada na minha cicatriz para me tranqüilizar e poderia auscultar o bebê também. Algum tempo depois ela ligou novamente falando que tinha conseguido um médico que estava disponível para atender o parto em um hospital qualquer do convenio, mas o parto seria particular. Fiquei preocupada com o dinheiro inicialmente, mas tudo que eu queria naquele momento era parir, parir, parir, parir. Daríamos um jeito depois! Seguimos até a casa da Maíra, a Ingrid foi até lá me ver e me dar um abraço pessoalmente. Eu estava feliz, entre amigos, segura, abraçada e agora com muito mais certeza de que tudo terminaria bem.  Meu marido pegou com o contato do médico e telefonou para ele, para ver como poderíamos fazer, qual hospital iríamos, qual valor ele cobraria, quais as formas de pagamento. A Maíra me avaliou entre as contrações e também durante uma delas e me tranqüilizou em relação ao bebê. Falou que eu poderia ficar tranqüila que tudo estava aparentemente bem com o meu útero também. Respirei aliviada, meu filho ia nascer..,meu parto ia acontecer!Me senti livre e segura para me focar no parto novamente...e foi incrível como as contrações voltaram com força total naquele momento. Comecei a ficar irritada na casa da Maíra (tadinha, tão boa anfitriã rsrsrs) eu queria ir embora, queria a minha casa, meu chuveiro. Como sabíamos que eu ainda estava na fase inicial de TP, viemos para casa. E aí a coisa pegou fooooooooogo. No carro eu já estava com dores muito fortes, comecei a ficar fora de mim. Eu queria ver a minha mãe, dar um abraço nela e ouvir ela dizer que tudo iria dar certo..minha mãezinha guerreira que teve 3 partos normais. Chegando em casa a minha mãe já me aguardava em frente a porta, me deu um abraço forte!! As contrações já vinham praticamente a cada 3 minutos. Corri direto para o chuveiro, vi na minha calcinha um pouco de sangramento. A Ana me explicou que aquilo era provavelmente pela dilatação do colo.
Fui para o chuveiro loucamente, eu nunca desejei tanto o meu banheiro e o meu chuveiro rsrsrs. Naquele momento, dentro do banho, senti que eu realmente agora estava em TP, parto ativo!!Agora definitivamente a coisa iria andar. Respira, rebola, relaxa, contração...contração..contração. Já estavam quase sem intervalo. Eu senti durante todo o trabalho de parto (desde o inicio) uma dor forte na região lombar (depois descobri que era por causa da posição do bebê, que tava posterior) por isso passei o dia inteiro em pé, sentar me incomodava. Naquela hora dentro do chuveiro essa tal dor ficou INSUPORTÁVEL. Eu precisava de massagem nas costas e precisava JÁ. Falei para a minha irmã tirar a roupa e entrar comigo no chuveiro (Box minúsculo do nosso apartamento) e me ajudar. Ela atendeu prontamente (rsrsrs). Pensei e falei tanta coisa que eu não me lembro mais...reclamei de tudo e todos, eu só queria a minha irmã. Comecei a sentir um calor muito grande e resolvi sair do banheiro. Minha mãe nos aguardava com um mingauzinho carinhosamente preparado. De inicio eu não quis comer, mas ela me deu colherada por colherada na boca, eu já estava muitas horas sem comer (desde que fomos para o hospital eu n tinha comido nada). Depois que sai do chuveiro comecei a sentir uma vontade muito forte de empurrar. Pensei “não é possível, já???” Como eu queria a minha irmã ao meu lado todo momento, a parte mais “burocrática” ficou por conta da outra doula, Ana. Que ligou para o medico avisando que eu já estava com vontade de empurrar. Meu marido nessa hora estava dormindo. Foi decidido que iríamos para o hospital pan-americano, na tijuca...bairro relativamente próximo de casa.
Minha irmã acordou meu marido. Me vesti e fomos de novo para o carro (de novoooooo!!). Foi mais um péssimo momento do meu trabalho de parto. Seguir naquele carro apertado, sem movimentação e com contrações quase sem intervalos..foi terrível!o hospital tão próximo me pareceu muito longe. Eu olhava pela janela do carro e não conseguia identificar onde eu estava, será que faltava muito para chegar?eu estava fora de mim...acho que estava quase em outra dimensão. Eu só pensava “ hospital, hospital, hospital”.  Chegando no hospital o “novo médico” estava nos esperando. Um anjo chamado Marcos Nakamura, que aceitou me atender no meio da madrugada (devia ser por volta de 1h da manhã quando nos encontramos). Ele estava tranqüilo e me passou muita paz e segurança. Agora sim eu sentia que podia ir em frente.  Entramos no hospital e ele solicitou uma sala para me examinar. Minha irmã conta que foi muita bucocracia mas eu não me lembro de naaada, so sei que ele me examinou e ouvi a grande noticia, a melhor que poderia ouvir 7 CM!!!!!!!!!
Uau, e não é que tudo que eu precisava mesmo era estar com uma equipe que me passasse segurança? Tudo evoluiu muito rápido.
Fomos dar entrada na internação. Foi quando tivemos mais uma péssima noticia: não havia vagas. A recepcionista antipática disse que o medico deveria ter solicitado com antecedência. Como solicitar um quarto com antecedência para um parto que pode acontecer a qualquer momento? Irritadíssima com o meu plano de saúde, com o sistema de saúde do Brasil, com a máfia dos médicos e hospitais pela cesárea, irritada com tudo. Eu senti na pele tudo que uma mulher não merece sentir, passei tudo que dizem nos jornais que as mulheres passam. Eu sabia que era real, que isso acontecia todos os dias, mas não imaginei que aconteceria comigo. Estávamos sem rumo. Meu marido começou a entrar em contato com todos os hospitais do plano de saúde. Ele telefonava para alguns e a minha irmã para outros. Só tapa na cara. Ninguém tinha vaga!!O que fazer?? Eu bati o pé e me recusei a sair de lá sem rumo novamente, eu queria ir para um hospital certo, eu queria ir para um lugar onde fosse ficar até meu filho nascer. Me bateu um certo desespero de que a qualquer momento ele poderia nascer e nós ainda não tínhamos nada concreto. Eu senti que estava chegando ao meu limite, eu estava desgastada emocionalmente e também cansada fisicamente. Minha irmã decidiu ligar para a minha mãe e contar a situação. Minha mãe disse que poderíamos seguir para qualquer hospital da cidade que tivesse vaga, que daríamos um jeito para pagar o hospital mesmo que fosse particular, ela faria um empréstimo no banco. Era a nossa única opção. As outras eram ir para o SUS ou ir para o plantonista de algum hospital, opções inviáveis para mim naquele momento. Eu queria estar SEGURA.
Pela ultima vez entrei dentro do carro, dessa vez com rumo certo: perinatal de laranjeiras.
Lembro-me vagamente que xinguei todo mundo, culpei a minha irmã por ter me convencido a ter um parto normal (tadinha!), culpei o médico dizendo que eu não gostava dele (pobre Dr, foi um anjo comigo), culpei a minha outra doula dizendo que ela não estava ajudando em nada (que injusta eu!) e pior de tudo...culpei meu marido por ter aceitado sair de Niterói, falei que ele era um irresponsável que ele gostava de me ver sofrer que eu queria voltar JÁ para Niterói, que eu queria uma cesárea imediatamente (kkkkkkkk), eu tava em outro planeta, sem noção. Eu gritei VOCES TODOS SÃO CULPADOS DISSO, VOCES TODOS!.
Chegamos ao hospital pouco mais de 3 horas da manhã e aí foi só alegria. Subimos para a suíte de parto e pedi para ir para o chuveiro. Não tinha chuveiro naquela porcariiiaaaa...então o jeito era encher a banheira que tinha lá. Mas a água era gelada e eu detestei. Alem disso eu não conseguia ficar sentada, pois ainda sentia muita dor na lombar. Nada mais funcionava. Eu não conseguia sentar, tava cansada e estressada ao extremo, não tinha chuveiro, não via mais outra opção. Eu precisava relaxar. Solicitei analgesia. Depois da analgesia eu consegui deitar e relaxar por algum tempo, não sei quanto tempo...deve ter sido uns 40 minutos. O médico comentou que o bebê ainda estava muito alto e que eu precisaria trabalhar para faze-lo descer. Ele falou que aguardaríamos até as 6h e então tentaríamos algumas técnicas para ajuda-lo a descer. Mas eu não agüentei ficar parada tanto tempo. Quando me senti recuperada resolvi levantar, caminhar, caminhar, ficar de cócoras. O médico voltou e ficou animado com a minha disposição. Examinou e viu que o bebê estava bem, batimentos bem, mas ainda alto. Ele me olhou e disse “ta tudo perfeito, agora só depende de você” . Então a cada contração eu ficava de cócoras e fazia força, força, força. Isso foi durante quase 1h. Eu não sei bem sobre o tempo, para mim o tempo tinha parado, eu tava parada ali naquele momento. Bom, o medico veio auscultar novamente e tivemos a ótima noticia de que ele já tinha descido um pouco mais!!Me animei e fazia ainda mais força quando vinha a contração. A analgesia já tava perdendo efeito e eu sentia tudo muito mais intenso. Força, força, força. A bolsa estourou (será?). Eu pensei que eu tinha feito xixi rs. Algum tempo depois novo exame, bebê ok, o médico decidiu fazer o toque. Aí de fato a bolsa estourou..ploft! molhou o medico todo..que vergonha kkkkkkk!!
Nessa altura do campeonato eu estava muito cansada e comecei a achar que não conseguiria levar isso até o fim. Me senti um pouco tonta como se fosse desmaiar. Vomitei bastante...e comecei a ter uma espécie de fobia do quarto onde estávamos. Eu precisava sair do quarto, ver Sol, ver luz, ter liberdade!!Já eram por volta de 7 ou 8 horas da manhã. Comecei a falar que eu não queria mais, que eu ia desistir, que eu não era capaz. A minha irmã saiu do quarto e foi conversar com o médico. Voltou junto com ele e com a Ana Fialho, médica assistente... outro anjo de Deus em minha vida que deu um gás novo ao trabalho de parto, sangue novo, energia nova. Ela pediu para me examinar novamente e eu permiti. Me falou que eu estava quase com dilatação completa e o bebê não estava mais posterior, ele já tinha virado e estava pronto para nascer. Nesse momento eu pensei “ótimo, falta pouco, eu consigo sim!ufa!”. Esses momentos finais ficaram um pouco confusos na minha cabeça, não me lembro de absolutamente nada que foi falado, nada do que aconteceu, tudo que eu pensava era eu, bebê, força, nascer. Vamos, vamos, vamos!Meu marido (que estava dormindo na sala ao lado) foi chamado para acompanhar o nascimento. Lembro de alguns momentos onde eu achava que não ia conseguir mais fazer força, que eu já tinha feito toda a força possível, mas o Dr Marcos, a Dra Ana e a minha irmã Luciana me davam força e coragem dizendo que eu era sim capaz e que meu filho já estava quase nascendo. Senti muita vontade de fazer cocô, muito calor e muita sede. A Dra Ana me explicou que tudo aquilo era sinal de que estava muito próximo de ter meu filho nos braços. Que alegria, nova injeção de animo e coragem...força, força, força. Tentei muuuitas posições: de joelhos, de quatro, de cócoras, deitada de lado. A única que me senti confortável foi semi-sentada em cima da cama. Mais ou menos de 1 hora de expulsivo, enfim tive o Pedro em meus braços e o sentimento que eu tive foi: CONSEGUI! Vitória, superação, garra, conquista...nem sei direito tudo que passou, todos os sentimentos maravilhosos. Olhei para o meu marido e falei “amor, eu consegui” olhei para a minha irmã e disse “ Lu, você viu isso?eu consegui” abracei forte o meu filho e falei “filho, NÓS CONSEGUIMOS!eu não sei como, mas nós conseguimos!!”. Eu estava realizada. Completa. Nunca imaginei que tudo isso aconteceria, mas não me arrependo de nada nem por um segundo. Toda a equipe me parabenizou. Mesmo com todas as dificuldades foi um parto incrível e inesquecível. Não me arrependo de ter saído de Niterói, de ter me recusado a ser operada novamente, de ter corrido atrás do meu sonho. Eu faria tudo outra vez!!!
Meu filho ficou comigo o tempo todo, foi amamentado logo ao nascer, não foi aspirado, não recebeu colírio de prata nos olhos. Nasceu pesando 3.180 kg e medindo 50 cm. Lindo, chorando forte, muito saudável. Fiz o melhor para mim e para ele, não tenho dúvidas.

EU CONSEGUIIIIIIIIIIIII." Nota: o Anel de Bandl é um sintoma bem comum de que o útero está na iminência de romper e é indicação absoluta de cesariana, entretanto, é um sinal muito fácil de perceber pois forma uma espécie de "S" bem visível na barriga da gestante, onde dá pra ver um "vale" bem delineado. No caso da Juliana, como ela estava acompanhada de doula e tudo o mais, ela só saiu do hospital porque tinha certeza de que estava sendo enrrolada pelo médico, pois ninguém além dele viu o suposto "sinal", que inclusive também não foi visto pelo médico que a atendeu em seguida e a prova cabal de que o anel foi inventado é que o útero não rompeu.