quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Valente


Eu ando numa onda de fugir das princesas bobocas que passam a história inteira deitadas esperando que algum desconhecido as salve. Chatices à parte, acho que toda mulher já sonhou com o príncipe encantado e, na minha modesta opinião, isso não faz bem pra ninguém, além de estimular uma atitude conformista e passiva diante das situações (como por exemplo dormir, ficar presa numa torre e etc). Tendo isso em vista e sendo filha de dois nerds, a gente tem procurado uns filmes alternativos pra Aurora, e um que me surpreendeu foi o filme Valente.

Merinda é uma princesa (ruiva, com cabelo enrrolado e todo desgrenhado, oq já me agradou por fugir do estereótipo loira do cabelo liso) que é ensinada pela mãe a se portar como uma dama, para que possa assumir seu lugar como rainha. Só que a Merinda, como toda boa ruiva, não aceita esse posto de "dama comportada", tampouco que lhe escolham um noivo, e luta contra isso. A trama inteira se dá nesse sentido, da personagem principal lutando pra se livrar das tradições e do que foi "estigmatizada" para ser. A parte legal é que a mãe da princesa, machista e super tradicional, passa por situações em que é capaz de compreender as coisas sob o ponto de vista da princesa, abrindo assim um canal de comunicação e entendimento entre as duas.

Achei super legal e recomendo! Minha mãe comprou o DVD pra Aurora e a família toda assistiu! Vale muito a pena!

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Página do blog!

Pessoal, criei uma página exclusiva pro blog! Quem gostar e quiser receber as atualizações e novidades do blog, é só ir lá e curtir!

http://www.facebook.com/oquehaderrado

:D

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O machismo nosso de cada dia


Daí que hoje eu estava na praça com Aurora e, como sempre, haviam várias outras crianças. Tem um menino em especial que sempre me chama a atenção, pois enquanto as outras crianças dividem e brincam umas com os brinquedos das outras, esse menino dá verdadeiros chiliques, de se ouvir do outro lado da rua mesmo com o carrinho de pamonha passando do lado, quando vê alguém pegar os brinquedos dele. É sempre a mesma coisa: as outras crianças estão brincando, ele chega com um brinquedo super chamativo e todo mundo quer mexer, pq né, rola um intercâmbio de brinquedos entre todos, daí esse menino brinca com o brinquedo de todo mundo, mas se alguém pega no dele, é a terceira guerra mundial. Eu até evito que Aurora fique perto dele pq não quero confusão, mas a vontade que eu tenho é de dizer pra mãe dele não deixar ele brincar com o dos outros, afinal, se ele não quer emprestar o dele, não é justo que as outras crianças tenham que emprestar pra ele.

Pois bem, estou lá eu com minha cara de alface abstraindo todos os papos cesaristicos, mamadeiristicos e chupetísticos das outras mulheres quando, de repente, o tal do menino pega uma boneca. MEU DEUS DO CÉU! A mãe, que estava entretida conversando com as outras, na hora para tudo oq está fazendo e fala um sonoro: "Não brinca com isso filho, que isso é brinquedo de menina. Tá vendo, é rosa e é boneca, é de menina. O Seu é o carro".


Eu quis vomitar e sair de Lavras correndo, pq não é a primeira vez que eu ouço isso e traduz exatamente o pensamento do brasileiro. Essa mesma mãe, em ocasiões anteriores, sempre reclama que o marido não cuida do filho, que não ajuda na casa e etc. Pois é gata, você está criando um menino pra ser exatamente igual ao seu marido: um machão que acha que cuidar de criança é função da mulher! Lavar, passar e cozinhar? Pra quê aprender essas coisas se vc pode casar e, além de ter uma mulher te servindo na cama, ter também uma empregada que faz tudo por você? Pq afinal, o trabalho do homem é ganhar dinheiro e o da mulher é gastar, não é mesmo?

Quantas vezes eu já não ouví que o Lu é um ótimo pai pq "até troca fraldas"? Já perdi as contas da quantidade de gente que acha que ele é um ótimo marido pq dividimos as tarefas domésticas. ALOW galera, cuidar de casa e de criança é tarefa dos dois! Tem que ser dividido e ele não faz nada de outro mundo, apenas cumpre com a obrigação dele. Fora as piadinhas de: "tá vendo, lá vai o pau mandado da Aretha colocar a criança pra dormir" ou "olha como ela judia dele! o menino é obrigado a fazer a papinha da filha!". Fala sério Brasil, acordem! 

Bora parar de fazer distinções entre meninos e meninas? Deixar os meninos brincarem de boneca e as meninas de carrinho? Porque, veja, essas brincadeiras de infância definem, a longo prazo, o nosso papel na sociedade, e se você cresce acreditando que a sua tarefa é limpar o chão, mais tarde vai ser super difícil de quebrar esses tabus e fazer o que vc tem vontade de fato. Quanta mulher eu vejo por aí que não queria ter filhos e acaba tendo porque o marido quer ou porque a sociedade pressiona? Quanta mulher acaba em profissão que não quer quando na verdade tinha vontade de ser policial, astronauta, bombeira, física e outras tantas profissões predominantemente masculinas? Aliás, essa é outra coisa, porque eu ouço todos os dias da minha vida, pelo menos umas duas vezes, que eu sou agressiva e grossa, mas quando é um homem (e eu convivo diariamente com homens 3x mais agressivos do que eu) essas qualidades são tomadas como positivas e até enaltecidas. Quer dizer que por ser mulher eu tenho que ser uma anta submissa que passa o dia inteiro na cozinha esquentando a barriga no fogão enquanto o marido tá na rua comendo outras (afinal de contas, não dá pra fazer sacanagem com a sua mulher né? sacanagem é só na rua, com a prostituta. a mãe dos seus filhos merece "ser respeitada)? Eu tenho a obrigação social de ser mansa, cativa e boboca? Nem a pau! Me recuso a ocupar esse lugar!

Aurora teve a sorte de conviver com meninos que brincam de casinha, tem jogos de chá, panelas, rodo e vassouras, além dos carrinhos. Minha filha tem a sorte de ver o pai lavando a cozinha e a mãe pregando quadros na parede; de ver a mãe na academia levantando peso e ficando "fote" (forte) enquanto o papai brinca com ela na praça, e assim vamos descontruindo esses estereótipos de gênero tão nojentos e que a gente tanto reclama. Afinal, se você reclama que teu marido não lava a louça, já pensou que pode ser pq a mãe dele não deixava ele fazer isso na infância e na adolescência porque essas eram tarefas "femininas"? Já pensou que muito da dificuldade do seu marido em cuidar dos filhos pode ser fruto de sucessivos desestímulos para que ele não brincasse de boneca? Que foi assim que ele aprendeu que um homem tem que ser, um cara que nunca chora nem demonstra sentimentos? Pois é. Crie seus filhos pra liberdade! Ninguém se descobre gay porque brincou de boneca ou de casinha! Arrumar a casa e ajudar nas tarefas domésticas não vão fazer seu filho ser menos homem! Compra uma boneca pra ele e deixa o menino ser feliz, expressar sentimentos, chorar quando tem vontade, ser pego no colo, ao invés de ficar falando que "isso não é coisa de homem". Se você quer uma sociedade mais igualitária, e que no futuro seus filhos não tenham tantos problemas quanto a nossa geração, incentive-os a questionarem os "papeis" de cada gênero, desconstrua! 


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Criando com apego: guia prático - parte doméstica

(capa da revista Times: "Você é mãe o suficiente?")

Daí que surgiu na internet o famoso termo "menas main" e toda aquela ladaínha que a gente já conhece. Olhando mais a fundo, se alguém é "menos" alguma coisa, óbviamente supõe-se que tenhamos alguém que seja "mais", logo, vim aqui pra tentar esclarecer alguns pontos e tentar dar dicas pras mães. Tenho visto muita gente usar o termo "super mãe" ou "mais mãe" pras meninas que praticam a criação com apego, que significa respeitar as necessidades de afeto, atenção e as necessidades do bebê e colocá-lo com prioridade, e isso tem me causado tamanho mau estar que eu tive que vir aqui vomitar. Todo mundo acha que pra criar com apego você tem que desistir da sua vida, largar o trabalho e ficar o tempo todo em função do "pequeno reizinho tirano", se anulando completamente, e o meu intuito aqui é mostrar que o que nós que criamos nossos filhos com apego fazemos não é nada de outro mundo, é apenas uma visão diferente de lidar com a criação de nossos filhos. 

Muita gente sempre diz "ha, mas eu deixei chorar à noite pq tinha que trabalhar no dia seguinte e só assim ele aprendeu a dormir", "ha, eu deixo ver tv pq só assim eu consigo lavar a louça e fazer o almoço" e outros N motivos, cada um mais ímpar do que o outro. O meu objetivo aqui é desmistificar essa "super mãe" e mostrar pra vocês que todas nós conseguimos passar pela primeira infância sem chupetas, mamadeiras, deixar chorar no berço ou colocar a criança pra assistir TV. Bora lá mulherada?

A primeira coisa que você deve ter em mente se deseja praticar a criação com apego é que o seu marido vai precisar ser parceiro. Sem marido companheiro, não tem criação com apego. Não vou passar pela questão do machismo e tal, mas acho que no mundo de hoje não faz mais sentido a mulher cuidar sozinha de casa e de criança. Se o filho é de ambos, o mínimo que o marido tem que fazer é colaborar. Então, partindo do pressuposto de que o seu marido deve sim ter funções domésticas e que tudo deve ser dividido, as coisas ficam mais fáceis e a mãe não vai ficar exausta ao final do dia.



Assim que Aurora começou a engatinhar, minha mãe nos deu um aspirador de pó. Ele vai evitar com que você enlouqueça cada vez que o bebê derramar farelos e coisas no chão. Não enlouquecendo por ter que varrer e limpar o tempo todo, você consegue deixar a sua criança comer cozinha e derrubar o prato no chão, consegue não ficar paranóica toda vez que o bebê tentar segurar a colher, não vai ficar maluca se ele resolver picar milhões de papeizinhos ou brincar de transferir a ração dos animais de um pote pro outro. O aspirador de pó me economizou milhões de rugas e muito estress, e valeu CA DA CEN TA VO! Com ele Aurora tem autonomia pra comer sozinha e brincar com o que quiser sem que eu tenha que me preocupar em varrer e passar pano! Coisa mais linda de deus! 

Outra coisa que eu fiz aqui em casa que me ajudou a reduzir drasticamente o nível de rugas foi comprar alguns utensilios de plástico. Dessa forma, Aurora sempre pôde brincar e explorar a cozinha sem maiores perigos. Desde 1 ano ela toma o suco no próprio copo, com a maior destreza e coordenação motora. Hoje, com 2 anos, tenho orgulho de falar que ela já come de garfo e que está aprendendo a usar a faca (ela mais faz bagunça do que usa a faca, mas é assim que ela aprendeu a usar as outras coisas). O prato ela carrega pra onde quer, bem como as cumbucas com lanches e etc. Nunca quebrou nada e assim ela tem autonomia pra fazer e pegar o que quiser, sem se machucar, sem quebrar coisas e sem que eu fique surtada.

A garrafinha de água dela também é de plástico. Hoje ela usa a do tipo "squeeze", mas antes, quando ela era um pouco menor e adorava derrubar água no chão, a gente usava o copinho com válvula, pois assim ela podia sapatear, pintar e bordar que não derramava nada no chão e não corria o risco dela tropeçar e cair. 



Tire os enfeites que quebram do alcance da criança. Tudo o que representar perigo deve ser tirado do alcance do bebê: travas na gaveta de facas, trava de segurança na privada e porta do banheiro fechada sempre, caixa de remédios em lugar alto, protetores de quinas, protetores de tomada. Tudo isso evita estress e perigo, e assim você torna a sua casa um ambiente amigável em que seu filho pode ir e vir sem que você perca a sua preciosa porcelana. Aqui em casa eu sempre tive poucos enfeites pq tenho 3 gatos bagunceiros, mas tirei os que me restavam em prol da minha filha poder ir e vir e se sentir pertencente à própria casa.



Não consegue fazer nada porque a criança toma tempo? Tente envolvê-la nos afazeres domésticos! Aurora me ajuda a costurar, lavar louça, colocar a roupa na máquina, fazer bolo e todos os outros trabalhos que uma casa exige. Se eu vou costurar, deixo ela brincar com os botões e linhas da minha caixa de costura (hoje em dia que ela está mais velha, quando era menor eu separava um monte de tecidos e dava pra ela brincar), se vou colocar a roupa na máquina, ela me ajuda tirando as roupas do cesto, e por aí vai. O que eu noto aqui em casa é que ela fica tão feliz por se sentir incluída e útil, que o trabalho doméstico acaba se tornando um prazer e uma forma de ficarmos juntos, e evita também o estress de mantê-la parada enquanto eu faço algo. Ela me ajuda em tudo, tudo mesmo, e acho importante pq também mostra pra ela que em casa todos nós temos uma função, e que cada um colabora de uma forma pra manter a casa organizada e a comida pronta. 



Deixar as coisas da criança na altura dela também facilitam muito e ajudam que ela tenha independência pra escolher o que quer pegar sem precisar de terceiros. Imagine morar numa casa onde tudo é grande ou pequeno demais pra você? em que você não consegue ir e vir sem ter que solicitar alguém? Pois é, aqui colocamos tudo o que é de Aurora na altura dela: as malas empilhadas da foto ficam com os brinquedos tipo quebra-cabeças, instrumentos musicais e brinquedos de encaixe. Embaixo da nossa escrivaninha tem o canto da Aurora com os livros, que ela pode escolher qual quer folhear e ou que a gente leia pra ela. No quarto o colchão está no chão, pra evitar quedas. No armário da cozinha tem uma prateleira com as comidas dela, ou seja, se ela sentir fome é só abrir e pegar. Água e suco sempre ficam em cima dessas malas ou na mesa dela. Caixa de brinquedo também. Só não fica ao alcance dela oq for perigoso. 


Pra guardar os brinquedos eu peguei uma caixa dessas de madeira que os verdurões e feirantes jogam no lixo, lixei bem, pintei e taquei os brinquedos lá dentro. Fica no chão, daí no final do dia é tocar tudo lá e acabou-se a bagunça e ninguém se acidenta pisando em pecinhas de lego! kkkkkkkkk



Enfim, espero ter ajudado! Depois volto com mais dicas sobre a parte do sono, de comidas práticas pra fazer e não precisar ficar 2h esquentando a barriga no fogão e etc.

Quero também pedir desculpas aos meus leitores mas é que, com o final de 4 meses em greve, o período ficou maluco e eu tô tendo prova atrás de prova. Assim que normalizar a situação, volto com as postagens regulares.


domingo, 16 de setembro de 2012

Relato de amamentação da Ane

Eu conhecí a Ane no ano passado, no grupo Gravidez Parto e Maternidade do orkut, e achei que seria ótimo se ela viesse aqui contar a história dela. A gente sempre bate na tecla do parto humanizado, de amamentar na primeira hora de vida e em livre demanda, de se consultar outras opiniões e só entrar com complemento quando tiver esgotado todos os recursos. A história da Ane sintetiza bem o porquê da gente insistir tanto nessas coisas.




"Minha gravidez sempre foi muito desejada, eu sonhava em ser mãe desde sempre, lutei muito para conseguir superar minha infertilidade, mas superei e quando finalmente olhei o exame de farmácia dando positivo, a alegria tomou conta de mim.
Como toda mãe de primeira viagem tive muitas dúvidas, incertezas, inseguranças, mas de uma coisa eu nunca tive dúvida, da importância da amamentação para o meu filho, e já tinha decidido, iria amamentar meu filho exclusivo e em livre demanda até os 6 meses, e depois o amamentaria até quando ele quisesse.
Mas...
Amamentei meu filho apenas 15 dias.
Pedro nasceu de uma cesárea (culpa de uma escolha errada) com 39 semanas, era uma quinta feira (02/02/2012) nasceu às 21h51, tudo tinha ocorrido como eu desejava até o momento em que ouvi o médico falar: Nossa como ele é pequeno! Só 2,400kg.
Minha família é craque em bebes pequenos, até aí tudo bem, ser pequeno não é tão ruim assim.  
Saí da sala de cirurgia e em menos de 2horas estava no quarto recebendo o meu bebe, todo enrolado em cueiro, lindo como a lua, tão branquinho...
Nesse momento ninguém me falou que eu deveria coloca-lo no seio para estimular a sucção, simplesmente me deixaram com ele, eu ainda estava parcialmente anestesiada e tão cheia de emoção por ver meu filho pela primeira vez que não lembrei desse detalhe importante.
Levaram meu filho para o berçário, falaram para eu dormir um pouco que no dia seguinte eles trariam meu filho logo cedo para ficar comigo.
Eram 10h da manhã, todos os bebes já tinhas descido para suas mamães e o meu não vinha nunca, no lugar dele veio o pediatra, que falou q meu filho precisava ficar em observação pois estava nauseado, questionei o pq, queria entender o q estava acontecendo, mas ele não explicou, disse apenas que iria observar e depois falaria comigo.
E sexta-feira passou e nada do meu filho ficar comigo, ele desceu umas 2 vezes no dia por 10 minutos cada, só pra eu ver e pegar um pouco, pq o pediatra achava q ele estava com algum problema, mas não sabia explicar o pq de tanta náusea.
O meu leite não tinha descido, eu estava desesperada pra ficar com meu filho, meu médico não me atendia pq estava em cirurgia sempre que eu ligava pra ele, os médicos do hospital não queria me atender pq eu havia feito um plano totalmente particular, eu mãe de primeira viagem e meu marido que não sabia de nada sobre maternidade ficamos esperando sem nenhuma informação até sábado a tarde quando meu médico veio finalmente me ver e meu filho foi liberado.
Meu leite não tinha descido ainda, e eu achava que iria descer sozinho, o médico  me deu Plasil e ocitocina sintética pra usar 10 minutos antes de colocar o bebe no seio, quando coloquei meu filho pela primeira vez no meu seio, veio uma fonoaudióloga do hospital, olhou pra mim e disse, vc não tem bico precisa de um intermediário de silicone, vou mandar buscar. Quando o intermediário chegou, me ensinou usar, colocou meu filho no meu peito e disso: Pronto é isso. Era sábado, 3h da tarde, quase 48 horas depois do parto.
Fiz o que me ensinaram, ele mamava, sugava um pouco e dormia, fui para casa no domingo com uma recomendação expressa do GO de comer muita cangica pra ter muito leite, segui a risca e foram 2 dias de cangica, que adoro, mas sempre me fez mal, meu filho começou a ter cólicas, super normal para um recém nascido, mas eu suspeitei q o leite da cangica estava dando gases em mim e nele, todo mundo dizendo q eu era louca, que não tinha nada haver, mas mesmo assim, eu decidi não tomar mais. 
Nessa primeira semana, nos primeiros dias, além da cólica achava que o Pedro mamava demais, ficava 1h, 2 horas direto no peito, mas parecia que não estava satisfeito, eu sentia que tinha algo errado, mas não sabia o que era, então comecei a pirar, achando que eu não tinha leite, que ele sugava tanto pq não saia nada, todo mundo me dizendo que eu estava errada, que era assim mesmo, que o seio só produzia na hora q o bebe sugava, fui na GPM (grupo de apoio à maternidade ativa) do face e postei uma dúvida, as meninas diziam que era normal, minha família dizia que era normal, e que eu estava entrando em depressão, não era normal nada, mas eu não sabia o que era.
No sábado meu marido comprou uma bombinha manual e eu comecei a estimular, além de não sair leite, machucou meu seio e eu fiquei dando mama só de um lado, passando leite no outro para cicatrizar mais rápido.
Comprou também uma lata de Nan, pq eu achava q o Pedro passava fome e não sabia o que fazer para sair mais leite, mesmo assim, lendo o que as meninas da GPM escreviam continuei a estimular e não dei o Nan.
Mas meu filho emagrecia a olhos visto, meu peito doía horrores, uma dor que eu chorava para amamentar,  já tinha 15 dias e nunca havia feito coco, só o mecomio que tinha saído no 4 dia, tinha algo de errado. Fui no pediatra com ele, o pediatra examinou e me madou para o PS, com a alegação de que meu filho estava desidratado, era fevereiro, um sol de rachar, fui tranquila, achando q era normal, quando cheguei no hospital fizeram exames de sangue e urina, e diagnostico foi: Desnutrição grau II.
DESNUTRIÇÃO???
Pirei né? Meu bebe sugava, mamava a cada 2 horas, ficava no peito por uma hora e estava desnutrido? Alguém me explica por favor?
Dr. falando o tempo todo: Vc não tem leite, seu filho está com 1,8kg, vc não complementou? Manda descer uma mamadeira agora! Soro glicosado urgente! Não coloca no peito pq ele vai gastar energia sugando e a glicose está muito baixa, se vc tivesse deixado para vir amanhã seu filho teria entrado em choque...
Eu nem vi o dia passar, não comi, não liguei pra ninguém, e achava que se era desnutrição mesmo, iria resolver com o complemento, fazer o que, naquele momento era a vida do meu filho, contra tudo o que me falaram sobre amamentação, eu não tinha escolha, tinha que tira-lo da desnutrição.
Pedro ficou internado 2 dias, tomando mamadeira de 2 em 2 horas, nem se cogitou coloca-lo no peito, ele tinha que engordar urgente, era feito exame de glicose a cada 2 horas, como a glicose se estabilizou e ele ganhou 200g, recebemos alta e uma receita médica escrito: Nan, 30mL a cada 2 horas.
Saí dos hospital sábado as 13h, cheguei em casa e dei a primeira mamadeira as 16h, vomitou na mesma hora, esperei um tempo e dei outra, vomitou outra vez e foi assim até as 22h, quando voltei para o hospital sem saber o q tinha acontecido.
Médicos sem saber o q fazer, vômitos em jatos, coloquei no peito pra ver se ele mamava, vomitou o leite do peito.  
Mais exames, Ultrasson da cabeça, da barriga, cirurgião veio ver, disse que uma válvula do estomago poderia estar fechada, coloca no peito pra ver, vomita o leite, dá mamadeira, vomita, coloca no soro, exames normais, não precisa operar, vem uma mamadeira de leite diferente a cada 2 horas, vomita, peito, vomita, de repente um milagre vem um leite que fica, ufa, leite milagroso, leite pra bebes pré-maturos, R$ 60,00 a lata, quem liga pro preço, quero meu filho bem.
Voltei pra casa 8 dias depois da primeira internação, ficamos no hospital com esse leite mágico sendo oferecido de 2 em 2 horas, só receberia alta quando chegasse a quase 3kg, engordava 90, 100g por dia, em casa mesmo esquema até chegar no peso ideal.
Chegou logo em 1 mês foram 2 kg. 
Todo mundo em casa me estimulando bastante:  “eu amamentei, mas se fosse hoje eu daria só Nan, muito ruim amamentar”, “ Eu tinha tanto leite, que coloquei na mamadeira logo, pq ficava vazando e eu queria q secasse”. 
Eu penando: Pq eu não tive leite???
Conversei com as meninas da GPM outra vez, relactação poderia ser a solução, vi o método, comprei o material e lá fui eu tentar, nossa, meu filho nunca chorou tanto, ficou nervoso, não conseguia sugar o peito, tentei com o intermediário, chorava mais ainda, eu chorava, ele gritava, e eu dei a mamadeira.
Tentei no dia seguinte, a mesma coisa, fui ficando nervosa e deprimida, mas eu tinha um filho pra cuidar, não tinha esse direito. 
Todo mundo falando, como ele está ficando lindo agora que está gordinho, que bom que ele não entrou em choque, nossa que legal que no hospital experimentaram vários leites diferentes e agora seu filho está bem.
Eu ouvia tudo e guardava no meu coração, aquilo pra mim, ainda não era uma resposta, tinha algo errado, uma mulher não podia simplesmente não produzir leite, um bebe não podia vomitar o leite da mãe e aceitar uma fórmula artificial.
Comecei a pesquisar, e cheguei a conclusão de que meu filho teria alergia a leite ou intolerância a lactose, ele tinha 2 meses e meio já estava com 5,5kg, aparentemente estava bem, levei no pediatra e expus minha conclusão, o pediatra falou que não entendia nada de alergia e de intolerância, mas achava que eu poderia estar certa, disse que eu deveria procurar um gastro-pediatra e conversar com ele, mas que nessa idade o Pedro não deveria mais tomar leite pra pré-maturo, que iríamos trocar por um hidrolisado sem lactose, assim qualquer que fosse o problema, o novo leite iria resolver.
Marquei a consulta com o gastro para 15 dias, comprei o leite novo, Pedro tomou e ficou bem na primeira semana, na segunda, chorava sem parar, foi diminuindo as mamadas, começou ficar cheio de urticárias, e rouco, chegou na consulta com o gastro, que concluiu logo de cara: APLV (alergia a proteína do leite de vaca), vamos testar um hidrolisado mais forte e se não der certo, vai ter q tomar aminoácido livre.
Meu filho estava mal, conversei com as meninas da GPM, afinal agora eu tinha um diagnóstico, e sabia o que tinha q fazer: Dieta restritiva de leite e voltar a amamentar.
Eu sabia que existia um remédio para depressão que tinha como efeito colateral a produção de leite, se eu conseguisse voltar a produzir, eu tentaria de todas as formas a relactação, eu estava decidida, mas já tinha tentado uma vez e sabia que não conseguiria sozinha.
Eu sabia, que por mais forte que eu fosse, sozinha eu não iria conseguir, eu precisava de ajuda, conheci mulheres que tinham conseguido, que me ofereceram em empréstimo bombinhas elétricas.
Procurei o pediatra: Não aconselho, vai ser difícil para você e para ele.
Procurei o banco de leite: Vai demorar muito para produzir e quando vc conseguir ele nem vai querer mais mamar.
Falei com a família: Pra que isso? Ele está bem com a mamadeira.
E eu comecei a pirar, fiquei angustiada, estava sem dinheiro, pq precisei comprar a fórmula de aminoácidos que custava R$ 150,00 a lata e só durava 2 dias. Pensei em contratar uma consultora de amamentação, mas não tinha dinheiro, nem cabeça, quanto mais eu lia sobre a alergia, mais angustiada eu ficava.
Meu filho estava rouco, com chiadeira no peito, e o aminoácido parecia ser o milagre em forma de pó, fazendo ele melhorar cada dia mais.
Ninguém ao meu redor me apoiava, e eu desisti...
Acho que tinha q ser assim...
Mas talvez essa história tivesse outro final:
 Teria se eu tivesse mais apoio, da família, dos amigos dos médicos.
Teria se os médicos não tivessem dado LA para o meu filho.
Hoje eu sei o que eram as náuseas: Resultado do LV dado logo ao nascer.
Sei também que as cólicas e o mamar sem parar eram resultado de uma inflamação causada pela alergia.
Sei que o refluxo nada mais era do que resultado de um organismo sensibilizado por um leite que nunca vai chegar aos pés do meu, e que por isso meu filho não mamava o suficiente, pq sentia dor.
Eu tinha leite, meu corpo estava produzindo quando ele sugava, mas com a dor, ele sugava só o suficiente para sobreviver, e mesmo assim quase morreu.
Hoje eu sei que a alergia é um fato na minha vida, se Deus me permitir outros filhos a chance de serem alérgicos é de 80%, então o parto vai ser diferente, não vai ser agendado, vou lutar por um VBAC (parto normal após cesárea), vou fazer dieta de leite antes do BB nascer, não vou comer cangica e nem nada que tenha leite, vou estimular o seio, vou esperar meu corpo se encher de ocitocina natural, vou amamentar meu próximo filho sem parar, ele vai ficar comigo 100% do tempo depois de nascer, eu vou gritar e brigar, mas não vou deixar que aconteça com ele o que aconteceu com o irmão mais velho. 
E vou ler mais, cada dia mais vou me apoderar mais do meu corpo, da minha vida e da minha alma de mãe e mulher!"






quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Como preparar uma papinha (e otras cositas más)

Daí que esses dias uma revista famosa sobre crianças lançou uma campanha de extremo mal gosto, que visa minimizar a "culpa" que as mães tem por determinadas atitudes. A campanha seria ótima, se não fossem as tais "culpas" obviamente compradas pela indústria alimentícia. Várias das imagens continham menssagens como "não há problemas em dar papinha industrializada pro seu filho pra passar mais tempo com ele" ou "dar mamadeira também é nutrir com afeto". Nem vou entrar no mérito da mamadeira pq sim, eu acho que se pode nutrir com afeto dando uma mamadeira, mas acho que esta só é válida quando todos os outros recursos se esgotarem, agora, a tal da papinha industrializada eu acho IMPERDOÁVEL. Uma coisa é você comprar um potinho desses um dia ou outro, outra é você dar isso pro seu filho todo santo dia. A resposta das mães veio rápido:

(clique na imagem para ampliá-la)

A gente bem sabe que a industria tenta fazer a gente acreditar, todo santo dia, que a comida que eles colocam dentro de uma latinha e que lá pode ficar por meses a fio, é tão saudável e nutritiva quanto a comida que a gente faz na nossa casa, com legumes e verduras de verdade. Todo dia são horas e mais horas de propaganda, e se você sentar na frente da TV durante 15min no horário voltado pra programação infantil, vai se dar conta do que eu estou falando. É um verdadeiro absurdo a quantidade de coisas que eles querem te vender fazendo você acreditar que aquilo substitui um bom prato de arroz com feijão! 
Nos grupos de mães que eu participo, uma colega, a Amanda Lima, levantou um dado interessante retirado do rótulo de uma dessas papinhas, acerca de um substância chamada Fumarato Ferroso:

"Sobre o fumarato ferroso: 'doses superiores a 1g em crianças são suficientes para produzir irritação e necrose gastrintestinal. os sintomas mais comuns são náuseas, vômitos, palidez, cianose, cansaço, hematêmese e diarréia.' 
Sim, tem isso na papinha do seu filho e não se sabe a quantidade. Eu não arriscaria."

Pois é amiga, isso eles não contam na propaganda. Se teu pediatra te disse que papinha industrializada e caseira são a mesma coisa, eu recomendo que você comece a se questionar quem é que está financiando os congressos de pediatria no Brasil. 

Além do fumarato ferroso, as papinhas industrializadas com certeza devem ter outras coisas para que possam passar tantos meses assim, prontas e perfeitas, sem estragar. E olha amiga, como bióloga eu tenho o dever moral de te falar que se os bichinhos não querem, se os fungos não estão interessados em decompor aquela gororoba, é melhor você passar longe dela! 

Uma das principais alegações que eu ví as mães dando pra utilizar esse tipo de coisa pra alimentar os bebês é a falta de tempo. Bem, pensando nisso, como mãe que estuda das 7h às 17:30h, que chega em casa e vai arrumar lancheira pro dia seguinte, marmita pro bebê almoçar, roupas pra usar na creche, brincar com a criança, dar banho, colocar pra dormir e etc, eu resolví gravar um vídeo pra todas aquelas que, mesmo sem tempo, ainda se preocupam em dar um alimento decente pro bebê. Em 15min dá pra você fazer papinha pra semana toda e ir curtir seu filhote, sem culpa de estar dando uma porcaria pra ele comer que pode prejudicá-lo pro resto da vida. :) 



Se você quiser saber mais sobre introdução de sólidos, dá uma lida nesse livro AQUI, que é BÁRBARO!


E agora, na moral revistas e indústria, já tão ficando meio óbvias as estratégias de vocês! Só não vê quem não quer a falta de escrúpulos de vocês, que querem enfiar porcarias nos nossos filhos que os deixarão doentes no futuro (e que os tornará consumidores de outra indústria gigantesca, a de medicamentos). Só acredita em vocês quem quer, e nada no mundo vai me convencer que essa "culpa" a que a tal revista se refere se dá pelo fato de que, nós, mães, não estamos fazendo o nosso melhor pros nossos filhos por comodismo. Se você não tem 15min do seu dia pra preparar um alimento pro seu bebê, talvez seja melhor você repensar a sua relação com o seu trabalho e se a quantidade de horas que você está dedicando ao seu filho está sendo suficiente. 



terça-feira, 10 de julho de 2012

A greve e as liberdades civis

Semana passada minha mãe, que é professora de federal, tinha me dito, mas eu não acreditei. Hoje eu acordei com a seguinte menssagem do ANDES:

Na hora eu liguei pra minha mãe e ela disse que saiu até no jornal nacional e nas outras mídias abertas (que eu não ví pois não temos mais TV em casa).

A educação pública está uma merda. Merda mesmo, completamente sucateada, e isso vai desde as creches às universidades. Faltam condições de trabalho, salários dignos, reajustes e planos de carreira melhores, falta material de trabalho, em alguns casos falta até GIZ pra escrever no quadro. Estou tremendo de raiva até agora. O governo do PT, que eu tanto apoiei e torci pra chegar ao poder, um governo grevista e sindicalista, justo eles, estão ameaçando os professores que estão em greve de cortar o salário. Muito me admira, muito mesmo, que por trás de todo aquele discurso de "nós somos do povo", esteja um governo notadamente autoritário, que manda dinheiro pra ajudar na crise da Europa enquanto os professores do nosso país se lascam pra tentar trabalhar.

Eu não quero mais viver num país em que as liberdades civís estão ameaçadas - porque greve é um direito do trabalhador garantido por lei, e se eles suspendem esses direitos, fere as liberdades civís e vai contra a constituição, e isso pra um autoritarismo maior é um pulo. Não quero mesmo. Esses dias atrás eu e o Lu estávamos até procurando Universidades pra fazer o nosso mestrado, mas decididamente não dá mais pra viver num país em que o cidadão não é respeitado e não é levado em consideração. Num país de miseráveis, com políticos corruptos, uma mídia extremamente comprada que nos faz de massa de manobra, condições precarissímas de saúde, escolas ruins, com muita violência e com as maiores taxas de impostos do mundo!

Fico pensando no tipo de vida que eu quero pra minha filha, e o ideal está bem longe daqui. Não quero que ela conviva com esse tanto de violência, com o descaso das autoridades pro sofrimento e necessidades das pessoas. Eu, como mãe, tenho o desejo que minha filha viva numa sociedade igualitária, de forma digna e respeitosa, que não tenha que matar um leão por dia pra ter seus direitos respeitados, que não sofra violência física, moral, obstétrica e discriminação de gênero, que possa exercer sua sexualidade sem que seja podada tanto pela sociedade quanto pelo estado, sem medo de ser estuprada ou passar por coisa pior. Quero que ela tenha acesso a boa educação, à saúde de qualidade, que tenha condição e acesso a boas bibliotecas, que possa contar com um governo que tenha preocupação em manter a equidade social e que não privilegia uma classe em detrimento da outra. Enfim, todas essas coisas que a gente não vê no Brasil, e não vai ver tão cedo.

Quando eu tinha lá meus 14 anos, eu queria mudar o mundo, e pra isso, mudei muita coisa em mim. Hoje eu vejo que não adianta dar murro em ponta de faca, que não vai adiantar ficar remando contra a maré se a própria sociedade civil não se mobiliza pra mudar a realidade do país, se as próprias pessoas são corruptas em todos os sentidos que a palavra corrupção pode ter. Desistí, com muito pesar e tristeza, eu sinceramente desisto de tentar viver aqui. Não quero viver mais sob a sombra do medo, da imoralidade e do desrespeito. Não quero mais sair nas ruas e ver a impunidade estampada na cara das pessoas, a falta de civilidade e de consideração ao próximo a cada esquina. Não quero que minha filha conviva com essas coisas todas e que ache isso normal. Cansei, cansei mesmo desse Brasil de ninguém, desse estado autoritário que não banca o cidadão nas coisas mais básicas.

segunda-feira, 18 de junho de 2012


Texto de Roselene de Araujo que merece ser lido, espalhado, curtido! Ela eh uma das mentes mais brilhantes da humanizacao:
" Nossos obstetras, agarrados ao osso do nascimento cirúrgico, erguem como um trunfo o corpo da ativista australiana morta (aliás, no hospital).

E escondem em seus armários os corpos das mortes em decorrência de cesarianas desnecessárias, eletivas, agendadas, aquelas que a sociedade vê como "o médico fez tudo que era possível, fez a cesárea, tudo direitinho".

Marsden Wagner, quando Diretor de Saúde Materno-Infantil da Organização Mundial de Saúde, alertou para o número alarmante de mulheres que morriam anualmente no Brasil em decorrência dessas cesarianas: 500 mulheres!

Quando a Rede Parto do Princípio denunciou ao Ministério Público Federal, as taxas absurdas de cesarianas na rede suplementar, Marsden Wagner enviou uma mensagem pessoal:

"Gostaria de parabenizá-las pela realização deste importante trabalho pelo fim das cesarianas desnecessárias no Brasil. A mortalidade materna no Brasil é alta demais e é a maior entre as maiores taxas de cesárea do mundo. Bons trabalhos mostram que a taxa de mortalidade de mulheres que passam por cesarianas eletivas é aproximadamente 3 vezes maior que as que passam pelo parto normal. Centenas de mulheres morrem anualmente devido a cesarianas desnecessárias. O trabalho de voces é muito importante. Por favor, mantenham-me informado.

Sinceramente,
Professor Marsden Wagner M.D.
Diretor de Saúde da Criança e da Mulher
Organização Mundial de Saúde"

" Outra coisa.

Não existe um procedimento chamado "cesariana a pedido". Não no mundo da legalidade.

Se há obstetra despudorado o suficiente para lançar esta frase como indicação de cirurgia num prontuário, das duas uma: ou é petulância, ou ignorância.
Portanto, não digam - srs obstetras, cremesp, sociedade - que fazem cesarianas porque as mulheres querem: os senhores NÃO PODEM fazer cesariana "a pedido". Se pudessem, se isto fosse um direito, o mesmo direito estaria disponível às mulheres que utilizam o SUS. Direito não envolve poder de compra.

É por isto que o agendamento sempre vem acompanhado de uma indicaçãozinha básica: "vamos marcar, porque logo se vê que você não tem passagem!" E então o prontuário pode ser preenchido com a devida vênia: "desproporção céfalo-pélvica".

Quase toda indicação nasce dos laudos de ultrassom: "hum... tá com pouco líquido, hein? vamos marcar." hum... placenta velha. cordão enrolado. bebê muito grande.

E mesmo as cesáreas descaradamente agendadas, a pedido mesmo, para 11/11/11, ou de modo que não seja de capricórnio, doutor, pelo amor de deus que já basta o meu marido - mesmo pra estas sempre rola um comentário: "viu como foi fazer a cesárea? olha só, as circulares do cordão!" - afinal o doutor terá que em seguida lançar uma indicação no prontuário, e a barbárie ainda não chegou ao ponto de se poder assumir: "cesariana por motivo astrológico".

E por que não se institui logo a cesariana a pedido para todos? Afinal, as maternidades particulares são formatadas para as cesáreas em série, os consultórios estão organizados em função dos dias em que o doutor opera e os dias em que está no consultório, as faculdades de medicina ensinam que cesariana é a regra, então por que não regularizam logo a esbórnia?

Primeiro, que o país é grande e contrastante demais para dar conta da cesárea como "direito de escolha". Não há hospitais em todos os recantos recônditos desse mundão. Aliás, pelo mesmo motivo não se pode, por exemplo, proibir o parto domiciliar assistido por parteira. Simplesmente porque não há outra alternativa para grande parte das brasileiras - sorte das mulheres urbanas que desejam parir de forma desmedicalizada, como recomenda a Organização Mundial de Saúde para o baixo risco - ou seja, para a grande maioria das mulheres.

E nesse conflito encontramos ainda outro ponto nevrálgico: onde irão encontrar nossos chefes de tocoginecologia, material didático melhor do que mulheres parindo em seus hospitais-escola para o aprendizado de seus residentes? Períneos em abundância para o treino de corte e costura! Episiotomias e suas episiorrafias em 100% dos partos! Tão necessário quanto cortar nossos esfíncteres a cada excreção "só pra dar uma ajudinha, senão não sai!" E o uso de fórceps em todas as primíparas - também para fins didáticos - sem nenhum tipo de esclarecimento à mulher, que sai de lá carregando pro resto da vida o peso de seu filho "ter precisado ser puxado a fórceps"?

Portanto, tenhamos clareza: quando um médico vira objeto de preocupação interestadual de conselhos de medicina por dizer num programa de televisão que o parto é um evento FISIOLÓGICO - ou seja, saudável e feito pelo corpo da mulher, que não haja dúvida: a árvore da conveniência intervencionista é que está sendo balançada.

Se a preocupação fosse com a mulher e seu bebê, não teríamos as taxas que temos de "binômios" levados a risco cirúrgico desnecessário, não teríamos o assédio moral da violência obstétrica vivenciada por milhares de mulheres todos os dias, parindo ao som de "na hora de fazer foi bom, que que tá gritando agora?!?"; não teríamos mulheres parindo convertidas em material didático das escolas de medicina; não teríamos classes de profissionais de saúde se engalfinhando pela reserva de mercado da assistência ao parto. A lista continua.

A cesariana a pedido é uma ilusão, uma miragem na qual os obstetras querem mais é que todos acreditem. Não sou contra que este direito exista, apenas penso que as mulheres que o desejam, devam lutar por sua legalização. Porque hoje, toda cesariana sem indicação comprovada é passível de processo, pois contradiz a responsabilidade civil do médico, que entre outras premissas baseia-se no seguinte artigo de seu código de ética:

"Art 14 Praticar ou indicar atos médicos desnecessários (...)"."

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Marcha do parto em casa - locais



Rio de Janeiro - RJ
Local: Praia de Botafogo, altura do IBOL - Passeata até o CREMERJ (Rua Farani)
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 10h da manhã
Contatos: Ingrid Lotfi (21) 9418-7500

São Paulo - SP
Local: Parque Mário Covas (atrás do Trianon) - Passeata até o CREMESP
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 14h da tarde
Contatos: Ana Cristina Duarte (11) 9806-7090

São José dos Campos - SP
Local: Praça Affonso Pena perto dos brinquedos
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 10h da manhã
Contato: Flavia Penido (12) 91249820

Campinas - SP
Local: Praça do Côco /Barão geraldo
Data 17 de junho, domingo
Horário: 14h da tarde
Contato: Ana Paula (19) 97300155

Sorocaba - SP
Local: Parque Campolim
Data 17 de junho, domingo
HOrário: 10h da manhã
Contato: Gisele Leal (15) 8115-9765

Ilhabela - SP
Local: Praça da Mangueira
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 11h da manhã
Contato: Isabella Rusconi (12) 96317701 / Alejandra Soto Payva (12) 91498405

Brasília - DF
Local: próximo ao quiosque do atleta, no Parque da Cidade - Passeata até o eixão
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 09h30h da manhã
Contatos: Clarissa Kahn (61) 8139-0099 e Deborah Trevisan (61) 8217-6090

Belo Horizonte - MG
Local: Concentração na Igrejinha da Lagoa da Pampulha
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 12h30 da tarde
Contato: Polly (31) 9312-7399 e Kalu (31) 8749-2500

Recife - PE
Local: Conselheiro Portela, 203 - Espinheiro - Em frente ao CREMEPE
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 15h da tarde
Contatos: Paty Brandão (81) 8838 5354 \ 9664 7831, Patricia Sampaio Carvalho

Fortaleza - CE
Local: Aterro da Praia de Iracema
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 17h da tarde
Contato: Semírades Ávila

Salvador - BA
Local: Cristo da Barra até o Farol
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 11hrs da manhã
Contato: Daniela Leal (71) 9205-9458, Anne Sobotta (71) 8231-4135 e Chenia d'Anunciação (71) 8814-3903 / 9977-4066

Curitiba - PR
LOcal: Rua Luiz Xavier - Centro - Boca Maldita
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 12hrs
Contatos: Inês Baylão (41) 9102-7587

Florianópolis - SC
Local: Lagoa da Conceição - concentração na praça da Lagoa, onde acontece a feira de artesanatos
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 15h
Contatos: Ligia Moreiras Sena (48) 9162-4514 e Raphaela Rezende (raphaela.rnogueira@gmail.com)

Porto Alegre - RS
Local: Parque Farroupilha (Redenção), Concentração no Monumento ao Expedicionário
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 15:00hrs
Contatos: Maria José Goulart (51) 9123-6136 / (51)3013-1344

terça-feira, 12 de junho de 2012

Marcha do parto em casa




O CREMERJ está querendo processar o Dr. Jorge Kuhn, de São Paulo, por conta deste assistir partos domiciliares. Justo o conselho do RJ, um dos estados da federação com maior número de cesarianas eletivas! Não deixem de ir! Tá acontecendo em vários estados, conforme forem surgindo novas informações, posto aqui.

entrem no grupo da marcha pra nos ajudar a articular: 
http://www.facebook.com/groups/328670400544557/



(fragmento de "No Caminho com Maiakóvski", de Eduardo Alves da Costa)

"Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada."



(postado pela Alaya, no facebook)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Relato de nascimento da Aurora - cesárea desrespeitosa no hospital Sofia Feldman

1 ano e 9 meses depois cá estou eu, revivendo esse dia que foi ao mesmo tempo o melhor e o pior da minha vida. Já tinha escrito antes um relato cheio de dor e emoção e agora, com um pouco mais de frieza e análise das coisas, tô conseguindo vomitar tudo o que aconteceu nesse dia. O relato é longo, mas é meu, carregado de mim e das minhas impressões. Espero que valha a pena ler!


Eu engravidei num momento em que total não era pra eu engravidar. Faculdade em outra cidade, longe da minha mãe e namorando há pouco tempo com o meu então melhor amigo daqui de Lavras. Nas férias eu descobrí a gravidez e foi aquele rebú: não sabia se ele ía assumir, como que a gente ía se sustentar e sustentar o bebê e tudo o mais. Com 8 semanas, ainda na casa da minha mãe no Rio de Janeiro, eu falei com a minha amiga Maíra, enfermeira em BH, se ela tinha algum médico pra me indicar em Lavras pois eu já tinha lido muito sobre parto e queria normal e humanizado. Antes de engravidar eu sempre fui fissurada por assuntos femininos e minha mãe sempre lembrava com um sorriso nos lábios o dia que eu nasci, dizendo o quanto foi rápido e que eu queria nascer, que fiz força pra sair e de como ela levantou sozinha após dar a luz e foi tomar banho, me dar de mamá e etc. Assim eu começei lá pelos meus 16 anos a pesquisar sobre a gravidez e conhecí e me encantei pelo parto humanizado. Achava que conseguiria pelo menos um parto normal em Lavras e a Maíra me indicou a lista do yahoo do grupo Parto Nosso, onde eu conheci a doula Rebeca que me orientou a gestação inteira. Com 8 semanas lá estava eu na lista pesquisando e me informando. A Rebeca me adicionou no msn e fomos conversando sobre médicos e etc. Assim que cheguei em Lavras, além da mudança (eu e o Lu decidimos de fato ser uma família), a primeira coisa que eu fiz foi pegar a lista do convênio e procurar um obstetra. Achei a Dra. A. que tinha consulta disponível e lá fomos.

Já na primeira consulta (o Lu sempre foi em todas), nos decepcionamos um pouco. O clima estava bem descontraído e tal, mas foi bem diferente do que eu imaginava. A médica passou um batalhão de exames e eu fiquei me sentindo meio doente e estranha, fora que eu esperava que a gente pudesse conversar sobre o parto, a gestação e que ela fosse me ensinar o "ser mãe e ser mulher". Bem, não foi nada disso. 30 min e consulta encerrada. Saí de lá com gostinho de quero mais e achei mudaria com a intimidade, quando a médica me conhecesse melhor.

Passei os 3 primeiros meses da gravidez dormindo. Hoje eu sei que era o meu corpo poupando forças pro que viria, já que eu tenho uma insônia crônica que me assaltou justo no meio da gestação. Eu dormia umas 20h por dia e comia o tempo inteiro em que estava acordada. Acordava pra comer, pois era a única coisa que melhorava o meu enjôo, e voltava a dormir.

Lá pelas tantas, perto dos 4 meses, eu começei a discutir como eu queria que fosse o meu parto com a minha obstetra. Já tinha lido sobre episiotomia, ocitocina, doulas e etc e queria um parto natural, de preferência com doula. Tentei achar uma doula aqui, mas era inexistente. A médica riu de mim, disse que parto humanizado era aquele em que a gestante não sente dor (a.k.a. cesárea), que ela não permitia a entrada da doula pois tinha tido uma experiência ruim com uma e que ela fazia episio pra evitar laceração, coisa que a gente discutiu uns bons 40min pois comoassim evitar uma laceração com um corte de 3 camadas? A Rebeca tinha me passado um questionário pra descobrir se o médico é cesarista e até que ela se saiu bem nas respostas. Nessa altura de campeonato eu achava que era A informada, empoderada e fodona. Sabe, eu sou uma pessoa super arrogante e admito. Não tenho problema nenhum em assumir, e durante a gravidez eu tentei meio que manter isso, mas não fui muito bem sucedida. Achava que bancaria e peitaria a médica na hora P e continuei com ela mesmo sabendo das possibilidades de um parto frankstein (é aquele parto em posição deitada, com episotomia, ocitocina e puxos dirigidos, nos estados unidos eles chamam de "parto estupro", devido a todo o desrespeito que ocorre com a parturiente e o bebê), pois na minha cabeça uma pessoa informada como eu jamais cairia numa cesárea desnecessária, afinal eu tinha estudado TODAS as possibilidades e indicações da cirurgia. Esse foi o meu primeiro erro.  Lá nos 4 meses eu meti na cabeça que ía ter um parto humanizado e tava namorando a idéia de parir no hospital Sofia Feldman em BH, há 200km daqui.

Continuei com essa médica e lá pelos 6 meses ela me passou um exame que o convênio não cobria. Na hora me bateu um estalo e eu perguntei pra recepcionista pra que era aquele exame e conversa vai, conversa vem, descobrí que com aquela médica rolava só cesárea. A recepcionista até riu quando eu falei que teria normal com ela e me disse "ha, a Dra. A. só faz cesárea. Eu mesma queria normal, mas ela só faz marcando". Me convencí a ir pra BH, e agora eu tinha a dificuldade de fazer o Lu entender que era melhor largar o convênio e parir no SUS de BH do que aqui. Meu método de convencimento foi o melhor: se você não for comigo, eu pego um ônibus e vou sozinha e nunca mais te perdôo por não me apoiar nisso. Passaram-se uns dias e a gente começou a arquitetar como iria fazer e eu começei a minha busca por um médico plano B pro caso de eu entrar em trabalho de parto antes de ir pra BH. Fui em 4 dos médicos da lista do convênio e desistí. Nisso, minha mãe (que é quase o meu guru) começou a ficar preocupada e queria que eu tivesse um parto domiciliar. Eu, imbecil, não me sentia segura pra tal. Desconfio que se ela tivesse o telefone da Rebeca, as duas teriam armado tudo e me pego de surpresa. Começei a flertar a idéia do PD (parto domiciliar), mas não queria parir aqui, além do que, caso precisasse de transferência pro hospital, ía cair numa cesárea sem sombra de dúvidas, pois os hospitais daqui são muito ruins e os médicos todos cesaristas.

Passei a gestação inteira com pequenos sangramentos que me fizeram parar a minha dança do ventre e os meus exercícios. Passei 1 mês quase sem ir pra faculdade de repouso absoluto e cagando de medo de perder o bebê. Foi assim que eu parei de fumar. Naquele primeiro sangramento, de madrugada, o Lu saiu pra comprar o remédio que a GO tinha indicado pra parar o sangramento e, assim que ele chegou, me contou que era um anti-abortivo. Gelei, meu coração parou e naquela hora eu decidí que não ía ser meia mãe: percebí que eu era responsável por aquela criança e que tudo o que eu fazia a afetava, e que mesmo fumando só meio cigarro por dia, esse meio cigarro a estava prejudicando. Não fumei mais e os sangramentos me acompanharam quinzenalmente até o final da gestação e me renderam, além de achar que meu corpo era falho, uma encucação sem motivos e um excesso de peso, pois eu não parava de comer e não podia andar. Aqui eu percebo o meu segundo erro, que foi me manter sedentária durante a gestação. Logo eu, que sempre fui esportista, que andava pra cima e pra baixo, fazia handball, academia e natação, fiquei prostrada num sofá por 9 meses, com medo da minha filha morrer. Todo mundo fala que não precisa ser esportista pra ter parto normal. De fato, não precisa, mas como se chama trabalho de parto, ter um bom condicionamento físico ajuda muito, principalmente em caso de partos longos que exigem muito do corpo.

Nas férias de Julho o pai do Lu nos emprestou um carro e lá fomos nós conhecer o hospital Sofia Feldman. Chegando lá, parecia um sonho! A ouvidora nos mostrou tudo, a casa de parto super aconchegante, com banheira, jardim, bola, barra pra apoiar, refeitório, enfim, aquele clima bem caseiro sabe? Me sentí no paraíso, pensando que não poderia ter escolhido lugar melhor pra minha filha nascer. Conhecemos também a parte do hospital (lá a casa de parto é anexa ao hospital), que eu jamais sonharia que ficaria lá. A ouvidora nos mostrou a sala de cirurgia, e ainda riu e brincou comigo, dizendo que aquela parte eu nem precisava me preocupar pois já que eu queria parto normal, iria direto pra casa de parto mesmo, e que cesárea lá só em caso de emergência. Saí de lá aliviada, o Lu também gostou muito, e estava muito segura e confiante de ter feito a opção de me deslocar 300km pra minha filha nascer. Na minha cabeça, a única opção melhor seria o parto domiciliar, mas como eu não bancava e não tinha hospital bom pra caso eu precisasse de transferência, o Sofia Feldman foi sem dúvidas a melhor opção que eu poderia fazer naquele momento.

Os 9 meses se passaram e nós conseguimos convencer nossos pais a pagarem um hotel em BH pra esperarmos a Aurora nascer. Fomos pra lá com 38 semanas, e todo dia alguém da família ligava pra saber se eu já estava sentindo alguma coisa. Foi um tormento, porque além de não conhecer ninguém lá, não conhecer a cidade e não saber o que fazer, ficamos os dois enfiados no quarto do hotel. A cada ligação eu ficava mais nervosa, achando que meu corpo estava me boicotando, que minha filha não ía nascer, pensando nos meus bichos que tinham ficado em Lavras, pensando que eu poderia estar na minha casa, segura, me sentindo amparada no meu ambiente. A certa altura eu quase fiz minhas malas e voltei, pois estava certa de que aquela criança não queria nascer. Lá pelas tantas, resolvemos ir novamente ao hospital por sugestão das meninas da bem nascer (nisso eu estava sem obstetra e sem me consultar, mas não achava que constituísse num problema, pois a Aurora sempre se mexeu muito e eu estava ok, com a pressão boa e tudo o mais), e lá marquei uma consulta pro dia 6/9 (dia da minha data de previsão do parto, em que eu completaria 40 semanas de gestação) e recebí um escalda pés maravilhosos, com direito a música, mentalização e tudo o mais. Saí de lá revigorada, de bom humor, sem medo de nada, a frustração tinha acabado. Esse dia era 3/9/2010, às 9h da manhã. Pegamos o ônibus e voltamos pro hotel. Às 15h minha bolsa estourou. Eu rí, contei pro Lu, mandei uma menssagem no msn pra Rebeca, que me orientou a descansar, pois eu estava sem contrações. Liguei pra minha mãe (que viria acompanhar o nascimento e estava no RJ) e pra minha sogra (que também ía vir de Ribeirão Preto pra ver a neta nascer) e falei pra elas virem tranquilas, pois eu não tinha contrações. Fui ao shopping, comprei minha camisola da maternidade, comprei lanches, fui ao mercado comprar isotônico pra me ajudar no trabalho de parto (já que no hospital a gestante é estimulada a comer e beber o que quiser) e voltamos pro hotel. Minha mãe chegou às 22h, e eu continuava sem sentir nada. Falei de novo com a Rebeca que ligou pra uma enfermeira amiga (vou chama-la de enf. S.) dela que estava de plantão no Sofia e se colocou à disposição caso eu quizesse ir verificar se de fato era a bolsa. Como a Aurora estava se mexendo muito e eu já havia lido que não precisa sair correndo igual uma louca pro hospital, decidí que ía dormir e que de manhã iria no hospital pra ver a quantas andava a coisa. De madrugada começei a ter contrações. Elas vinham de 5 em 5 min, depois passou de 3 em 3min, e lá pra perto de amanhecer, começaram a vir a cada minuto, com duração de 30s cada uma. Acordamos todos e fomos pro hospital. Já no carro as contrações deram uma parada, mas ainda estavam lá. No hospital, fiquei algum tempo na recepção esperando atendimento e fui bem específica de que queria ir pra casa de parto. A enf. S. me atendeu, fez o exame de toque e constatou que eu estava com 1cm de dilatação e colo posterior. Me disse também que eu só poderia ser admitida na casa de parto com 4cm de dilatação e que minhas contrações ainda estavam fracas (nessa hora elas quase tinham parado). Ela falou com o Dr. J., que tb estava de plantão, que me recomendou voltar ao hotel e dormir, e que eu voltasse às 17h pra eles darem uma olhada. Fui dormir, mandei uma outra menssagem pra Rebeca que me mandou descansar e que mais tarde nos faríamos o trabalho de parto engrenar. A essa altura minha sogra já havia chegado à BH e eu fui pro quarto dormir. Não conseguí. As contrações estavam muito leves, uma "coliquinha boba" e eu sabia que não era hora de ir pro hospital, mas as pessoas começaram a ficar afobadas. Por insistência da minha mãe e medo meu, voltamos ao hospital às 17h, onde foi feito um novo exame pela enfermeira B. e constatado que eu continuava com os mesmos 1cm, mas meu colo agora estava anterior, ou seja, começando o processo da dilatação. o Dr. J. estava mudando de plantão e o obstetra que assumiu, o Dr. Paulo, recomendou a internação. Eu tremi dos pés à cabeça, a Rebeca me ligou e me recomendou a aceitar a indução, e se ofereceu pela milésima vez pra vir me acompanhar, ao que eu novamente recusei, pois não queria ninguém além do Lu e da minha mãe alí. Eu sabia que não era hora, sabia que meu corpo não estava pronto e que eu precisaria passar por um processo muito longo pra minha filha nascer. Minha mãe nessa hora já estava em pânico, minha sogra ídem e lá fui eu com o Lu, como quem vai pro abate, aceitar a indução. Eu sabia que a indução era extremamente dolorosa, que podia dificultar o processo de nascimento em alguns casos, mas eu sempre fui corajosa e aguentaria a dor. Eu sempre tive um resistência monstra pra dor, que aumentava ainda mais em casos de necessidade. Quando estávamos entrando no hospital (como eu estava com bolsa rota há mais de 24h, não poderia ser admitida na casa de parto), eu segurei a mão do Lu e falei pra ele que iria ser cesárea, que eu sabia disso. Ele me disse que não, que era só indução e que isso iria ajudar a Aurora a nascer. Eu já tinha entregue o meu plano de parto pra enf. S. e ela tinha lido e visto quais intervenções eu não gostaria que fizessem comigo e com a minha filha. A enf. S. e a enf. B. se propuseram a se revezar nos cuidados comigo e ficarem o quanto fosse necessário até que Aurora nascesse. Fui pra um lugar "especial", sozinha com o Lu, sem outras gestantes por perto. Lá colocaram o cardiotoco na minha barriga (pra saber se o bebê estava bem e verificar as contrações) e viram que os batimentos da Aurora estavam ótimos, mas as contrações estavam "ineficiente" (hoje eu sei que aquilo eram só pródromos, que era o meu corpo se preparando pra ela nascer e que aquilo ainda poderia demorar muito). Aí começou o show de horrores. Um técnica muito da grossa veio colocar o "acesso" em mim, e demorou uns 30 minutos até achar a minha veia. Ela me cutucou os dois braços e arrebentou a minha mão. Eu saí do hospital com a mão tão roxa que parecia que tinha caído um armário nela. Esse roxo só foi sumir 15 dias depois, tamanho o despreparo da técnica. A enf. B. e uma outra técnica, a tec. L., ficaram um pouco comigo e fizeram uma "dinâmica" pra ver como estavam as contrações e saíram. Fiquei 30min com o Lu na sala, contrações super suportáveis que começaram a apertar e elas voltaram. Fizeram outra dinâmica (apertavam a minha barriga durante as contrações) e decidiram colocar a ocitocina na dose máxima, pois realizaram o toque novamente e eu continuava com 1cm. A enf. B. me disse: "bem vinda ao trabalho de parto, pois agora vai começar de verdade" e eu sorrí, alegre, confiando que iria dar certo. Aí o negócio começou a pegar e eu passei a delirar de dor. A dor que eu sentí é a mesma que as gestantes descrevem quando está muito perto do bebê nascer, quase com dilatação total. Contração é um negócio engraçado. Num trabalho de parto sem intervenção, elas vem em ondas, que vão aumentando gradativamente. A dor que vc sente com a ocitocina é 3x, aproximadamente, maior do que a dor que você sente sem ela. Eu fiquei deitada, pois estava a muito tempo sem dormir e super cansada. Estava disposta a aguentar aquilo pra minha filha sair pelo buraco que ela entrou, afinal eu conhecia os riscos da cesariana e tinha muito medo de morrer ou de acontecer alguma coisa com ela. de 30 em 30min vinha alguém me fazer o toque, constatar que não havia evoluído, e saía. Lá pelas tantas eu me irritei e decidí que ía andar. Andar com aquela porcaria daquele negócio que prende o soro é anti-esportivo. Sério, aquilo atrapalha muito! Nessa hora o Lu (ele saiu pra comer alguma coisa) trocou e minha mãe entrou. Foi a pior cagada que eu poderia ter feito, porque a minha mãe, que sempre é a pessoa mais racional do mundo, simplesmente pirou. Eu agachava durante as contrações no meio do corredor do hospital, com aquela camisola que mostra até a sua alma, sem a mínima dignidade, com todos que passavam me olhando como se eu fosse uma maluca, e minha mãe, ao invés de agachar comigo e segurar minha mão, ficou tão desorientada que foi conversar com as enfermeiras. Eu levantava e agachava, levantava e agachava, a cada contração, na esperança de ajudar em alguma coisa. Eu fiquei tão irritada com a minha mãe, que só conseguia brigar com ela. Eu tinha muito medo dela surtar (ainda mais), de apertar a mão dela e machucar, enfim, dexei ela conversando com a enf. B. e lá pelas tantas ouvi a enf. dizer pra minha mãe que eu não ía aguentar. Aquilo foi o fim. Toda a minha esperança foi pro ralo ao ouvir aquilo. Eu fiquei com tanto ódio, tremia tanto, que minha vontade era de bater nas duas e sair dalí correndo. Devia ter ouvido o meu instinto e ter feito isso, mas de fato eu não tinha pra onde ir, nem pra quem pedir socorro, já que já tinha dispensado a Rebeca. Expulsei a minha mãe e pedi pra chamarem o Lu, que veio correndo. Fomos pra debaixo do chuveiro, e nisso eu já estava com muita dor. Eu achava que aquela dor era a pior que eu já tinha sentido na minha vida. Naquela altura eu achei que já devia estar bem dilatada, rebolava na bola, tentei vocalizar mas não conseguí, e toda hora me passava pela cabeça um texto da Ina May Garskin, parteira, que dizia que os esfincteres são tímidos e que se a mulher não se sente segura, não dilata. Aquele ambiente de hospital, de doença, de sofrimento, me deixava apavorada. Quando as enfermeiras e técnicas não estavam por perto, eu só conseguia sentir um misto de alívio (por finalmente ser deixada em paz, por pararem com os toques excessivos e as dinâmicas doloridas, por não ser tratada como uma bomba relógio) e muito abandono, me sentia largada, sem nenhuma explicação, nenhuma ajuda (o Lu fez o que pode, mas ele nunca tinha acompanhado um parto, não sabia como agir e estava mega preocupado comigo). A doula aqui teria sido crucial pro bom funcionamento do parto, e novamente eu colhi os frutos da minha arrogância, de me achar a fodona, de achar que por suportar bem a dor e conhecer o processo de nascimento, eu não sentiria medo. O medo me bloqueou de tal forma que eu só queria que aquilo tudo acabasse. Sentia que meu corpo não era mais meu, que pertencia à equipe. Não havia em mim nem um resquício de instinto de preservação, de dignidade. A cada 30min eu era invadida por alguém da equipe que vinha ver a minha dilatação, apertar a minha barriga, olhar o cardiotoco. Meu corpo foi totalmente exposto, me sentia um rato de laboratório, com aquele entra e sai, enfermeiras explicando procedimentos pras técnicas e estagiárias, e me usando pra demonstração. Era quase como se eu não tivesse alí, como se eu fosse um boneco anatômico, uma bomba relógio, como se eu fosse matar a minha filha. Quando eu já não aguentava mais na bola e decidí sair do chuveiro e me deitar de novo pra tentar descansar, ouví a parturiente da "baia" ao lado que também estava induzindo implorar por uma anestesia e o médico dizer que só fazia depois dos 6cm, e que ela estava com 5cm e que poderia atrapalhar. A mulher suplicou uma pá de vezes pela anestesia e não foi atendida. Eu não queria pedir anestesia pois sabia que poderia prejudicar o processo, eu queria sentir minha filha nascer. Hoje eu percebo que poderia ter tomado e dormido um pouco, relaxado, mas enfim, também não me foi sugerido. Novamente a enf.B. e a estagiária L. voltaram pra fazer a dinâmica e o toque e disseram que eu estava com 3cm, quase 4cm, e que o médico viria me avaliar. Nossa, eu achava que seria bem mais. A cada toque que eu levava, além de dor, eu sentia muito pesar, como se meu corpo estivesse me abandonando, me deixando na mão. O médico, Dr. Paulo, estava discutindo o meu caso com a equipe, aos berros. A equipe tentou me ajudar, segurar o médico pra ele me deixar quieta com o meu processo de parto, mas ele quis ver o meu prontuário. Entrou na minha "baia" como quem entra com um furacão do lado de fora, e os 3cm que a enf. B. havia diagnosticado, se transformaram novamente em 2cm. Já tinham passado 4h de indução. O Dr. Paulo foi extremamente grosseiro, invasivo, desumano, sem educação e bossal. Mal falou conosco, abriu minhas pernas e enfiou os dedos, assim, como quem enfia o dedo num pote ou abre uma torneira. Nem olhou pra minha cara. Além dos berros, começou a dizer que eu já deveria ter dilatado. Que a moça ao lado estava na indução também e que já estava com 5cm, que eu deveria dilatar 1cm por hora e que àquela altura já deveria estar com pelo menos 6cm. Eu tentei argumentar que a enf.B. havia constatado 3cm, tentei chamá-la, mas foi em vão, pois ela não podia peitar o médico. A arrogância e prepotência daquele homem tomaram o quarto inteiro. Ele novamente recomeçou a gritaria e disse que iria me fazer a cesárea. Meu coração gelou eu pedi que esperasse, ao que ele foi criterioso que não esperaria. Argumentei que na holanda se esperavam 48h de bolsa rota até partir pra indução, que a indição demorava e etc (isso tudo ainda com a ocitocina, morrendo de dor, tremendo dos pés à cabeça, completamente vulnerável). Ele riu. Assim, riu sabe? Sabe quando vc rí alto de uma piada muito engraçada? Riu na minha cara, riu da minha dor, do meu desespero e do meu pânico. Disse que na Holanda se esperavam 48h de bolsa rota mas que ele era um obstetra brasileiro que não deveria ter esperado nem 12h. Que eu já deveria ter sido cesariada há muito mais tempo. Novamente eu falei em assinar um termo de compromisso, que eu me responsabilizava, que o cardiotoco da Aurora estava ótimo com os batimentos perfeitos e que não eu processaria o hospital caso desse algo errado, que eu queria esperar. Ele simplesmente me disse "que termo de compromisso oq menina, isso não serve pra nada", riu novamente e me deixou falando sozinha.

Do lado de fora da "baia", ouví a equipe conversar sobre cesárea humanizada, que não era possível, que isso não existia. Ouví novamente as enfermeiras tentando argumentar com o médico, insistindo pra ele esperar, mas ele só gritava algo que eu não conseguia ouvir. A enf. B. entrou, com um olhar triste, e eu realmente não me lembro oq ela me falou. Nessa hora eu já tinha desistido, e só queria que aquele pesadelo acabasse. Eu tinha movido mundos e fundos pra ter minha filha de forma respeitosa e digna, e tudo o que eu tinha conseguido era gastar rios de dinheiro e um médico grosseiro.

Uma nova técnica veio me preparar pra cirurgia. Ela foi super grossa, me mandou tirar os pircings, num mau humor horrendo. Eu não conseguí tirar os da orelha, pois esses só saem com alicate, e ela começou a me falar um monte (que eu nem lembro, pq tava com muita dor), que eu não queria tirar, que daquele jeito eles iriam rasgar a minha orelha na cirurgia, que se eu precisasse ser entubada isso dificultaria e etc. Ela me segurou e falou pro anestesista vir. Eu pedí pra ela esperar a contração, pois estava tendo uma naquele momento e ela me mandou ficar quieta, brigou comigo, que assim ela não conseguiria trabalhar, que eu estava dificultando tudo, que iria ficar tetraplégica se não parasse de me mover e que estava atrasando o funcionamento do hospital. O anestesista, o único que teve bom senso naquele dia, esperou passar a contração e aplicou a anestesia. O Lu chegou, já vestido com aquela roupa de sala cirurgica, e eu só conseguia sentir muito medo. Pedi pra ele cuidar da Aurora, pois eu tinha certeza de que algo sairia mal. Eu chorava muito, copiosamente, e as pediatras e técnicas zombavam de mim, dizendo que aquilo acontecia com todas as mulheres, todos os dias, e que não era motivo pra choro. Que eu seria só mais uma a ter uma cesárea, que aquilo era um porcedimento totalmente normal. Na minha cabeça só me passavam as estatísticas de mortalidade materno-infantil. Fiz o Lu me prometer que não desampararia a nossa filha, que cuidaria dela se me acontecesse algo.

O cheiro de carne queimando durante a cirurgia, por causa do bisturi elétrico, é simplesmente horrível. Apesar da anestesia, eu sentia o bisturi entrando, sentia ele rasgando a minha carne. Tinha vontade de correr, mas minhas pernas não funcionavam. Minha mãe estava do lado de fora, na janelinha, me olhando, e chorava tanto, como quem pede desculpas. Eu só queria sair dalí. Parecia que tudo o que eu tinha pedido pra  fazerem no meu plano de parto, estava sendo feito ao contrário, como se eu fosse uma maluca por "arriscar a filha durante 36h por um capricho de ter um parto normal". Ninguém falou comigo. Não explicaram o que estavam fazendo, não olhavam pra mim. Eu não existia alí. A equipe só tinha uma preocupação: extrair o bebê daquela lunática, como se meu corpo estivesse matando a Aurora, como se eu fosse um perigo mortal pra ela. A sensação que eu tinha era de ser uma maluca de hospício, amarrada naquela maca, completamente vulnerável e indefesa, sem saber o que estava acontecendo. Tinha escrito no plano de parto que, caso a cesárea fosse necessária, queria ter meus braços livres como eu havia visto em cirurgias humanizadas, queria ver quando a Aurora saísse da minha barriga e amamentá-la ainda na mesa cirurgíca, como acontece em muitos outros lugares. Eu só soube que íam tirar a Aurora porque perguntei pro Lu e ele foi ver. Ele que me avisou que ela estava nascendo, que aqueles puxões que eu estava sentindo eram o médico extraindo nossa filha da minha barriga. Eu chorei muito, chorei a cirugia inteira, e ninguém me dava uma palavra de consolo, de apoio, nenhuma explicação, nada. Eu não existia praquelas pessoas. Quando tiraram a Aurora, mostraram pra minha mãe através do vidro e fizeram os procedimentos nela. Todos os procedimentos que eu pedí pra não fazerem, foram feitos. Eu ouvia o choro dela e pedia desculpas por não poder pegá-la. Me sentia um monstro por não poder estar com a minha filha. Parece que demorou uma eternidade até me trazerem ela por breves 5s. Todo mundo viu a Aurora antes de mim. TODOS. Eu fui a última pessoa a vê-la, e mesmo assim por pouquissímo tempo. Nessa hora eu avisei que iria vomitar. O Lu pediu ajuda pra equipe e mandaram ele virar minha cabeça de lado. Vomitei. A pior coisa da vida é vomitar com o seu corpo aberto. Parecia que todos os meus órgãos íam pular pra fora! Eu não podia me curvar por causa da anestesia e por ainda estar aberta, e vomitar deitada, amarrada e numa sala fria, foi uma sensação péssima. O Lu ficou lá uns bons minutos pedindo um pano pra me limpar e ninguém queria dar. Falaram pra me deixar daquele jeito que depois limpavam. O anestesista deu um pano pra ele e ele me limpou, mas isso demorou bastante. Mandei o Lu ir ficar com a Aurora, que ela precisava mais dele do que eu, e ele foi. Começei a tremer muito, meus braços estavam descontrolados, parecia que eu tinha levado um choque. Eu pedí muito pra me cobrirem, pois o frio era insuportável. Novamente alguém riu (não me lembro quem, pois nessa hora já estava tudo nebuloso) dizendo que não ía adiantar, que aquilo era efeito da anestesia. Chorei tanto, tanto, que o anestesista novamente decidiu ser um humano e me cobriu. O Lu e a Aurora saíram do quarto e me apagaram. No plano e parto eu tinha dito que não queria que me dessem a sedação, o que novamente não foi respeitado. Na Aurora fizeram tudo: colírio de nitrato de prata (eu fiz pré-natal e não tenho gonorréia, o que tornava o uso do colírio, que dá uma conjutivite química no bebê, completamente dispensável), vitamina K injetável e aspiraram (enfiaram um tubo no nariz dela, sem anestesia nem nada). Eu choro sempre que penso nisso, pois nem viajando 300km, indo pra um hospital humanizado, referência como hospital amigo da criança, tinham respeitado os direitos da minha filha e os meus pedidos. Acordei naquela sala fria, sem ninguém. Fiquei em pânico e nessa hora alguém entrou, novamente com muita má vontade, e eu perguntei aonde estava minha filha. O Lu apareceu na porta da sala de cirurgia, com a Aurora no colo, já vestida, e disse que já íam me levar pro quarto. Lembro da dor. Mesmo anestesiada, sentí quando me colocaram na cama, como se eu fosse um saco de batatas. O baque fez os pontos doerem. Fiquei numa cama, suja de sangue e de urina, até a manhã seguinte. Aurora só foi amamentado 50min depois de nascer, sendo que eu tinha pedido pra amamentar ainda na sala de cirurgia pois sabia o quão importante era amamentar na primeira hora de vida. Alguma técnica veio, apertou meu peito e colocou ela lá. Eu não sentia nada além de tristeza. O maior momento da minha vida, o melhor, o encontro com o meu maior amor, tinha sido roubado. Eu mal conseguí olhar praquele bebê. Tinha vergonha dela. Vergonha de ter feito ela passar por tudo aquilo, vergonha de ser incapaz de parir. Só conseguia pedir desculpas internamente, por ela ter que passar por tudo aquilo por culpa minha. Fizeram tudo contra a minha vontade, sem a minha autorização ou do pai dela. Não nos explicaram nada sobre os procedimentos, sobre o que aconteceria com ela e comigo. Nos deixaram num vazio de informações absurdo.

No dia seguinte houve uma reunião de mulheres recém paridas e as psicólogas do hospital pediram pra gente avaliar o atendimento. Eu falei que tinha sido ruim e tudo o mais, ao que me foi respondido: "você está achando tudo isso porque não queria a cesárea". Na hora eu não entendí o que tudo aquilo significava, não entendia muito bem o que tinha acontecido e novamente abaixei a cabeça e me calei. Hoje eu vejo o quanto o meu atendimento foi precário, desrespeitoso e que ainda tentaram colocar panos quentes. Pra todas as outras gestantes, o hospital foi humanizado, mas pra mim não. Não entendo como um hospital que é referência em atendimento humanizado à gestante tem um médico que grita com a paciente, uma equipe que a deixa suja de vômito e técnicos e enfermeiras que riem do seu desespero. Pra coroar com chave de ouro, a enf.B. veio dizer pra minha mãe que eu pedí a cesariana. Que eu tinha pedido pra me fazerem a cirurgia. O Lu estava comigo o tempo todo e me disse que eu não pedi, e eu me lembro de não ter pedido também. Não pedí a cirurgia nem anestesia. Tudo o que eu queria era amparo e suporte, coisas esperadas num lugar humanizado, e que me foram negados.

Hoje eu sei que poderia ter esperado mais, que há casos em que se espera 1 semana com monitoração, que não precisava ser induzido. Sei que eu jamais dilataria com aquelas condições, com aquele entra e sai de gente o tempo todo indo olhar a minha vagina, com as enfermeiras dando aulas e explicações sobre o meu corpo como se eu não estivesse alí. O único caminho possível pra mim seria o parto domiciliar. Fiquei muito triste com tudo o que aconteceu e me sinto revoltada, traída e ferida, pois todas as outras gestantes que vão pro mesmo hospital sempre relatam maravilhas. Justo comigo, que queria parir, que tinha me informado durante 9 meses sobre humanização do nascimento, aconteceu tudo ao contrário. Se eu soubesse de tudo isso, teria ficado em Lavras, tido minha filha no hospital daqui e me pouparia dinheiro e muita frustração. Minha cesária foi completamente desnecessária (tendo em vista que os batimentos cardíacos estavam ótimos e a Aurora estava se mexendo super bem durante todo o processo) e desrespeitosa. Dói na minha alma saber que eu e minha filha fomos maltratadas por gente que se prestou a fazer um atendimento diferenciado. Dói saber que fui enganada, que não fizeram nada do que a instituição propunha, que me despiram da minha dignidade e me fizeram uma ferida no corpo e na alma. Posso ter mais 10 filhos e essa dor nunca vai passar. A violência com que fomos tratadas e o desprezo vão ficar pra sempre na minha memória.




sábado, 2 de junho de 2012

nascimento do ponto de vista DO BEBÊ

Postagem inspiradíssima de Ana Paula Caldas, Neonatologista em Campinas/SP

"Após 9 meses, aproximadamente 280 dias, 40 semanas ou 9 luas o bebê finalmente está pronto para nascer. O feto, completamente formado desde as 12 semanas, levou todo este tempo para crescer e amadurecer dentro do útero.
No final da gravidez ele dá sinais que está maduro e inicia-se o trabalho de parto. Sua circulação é inundada de hormônios que sinalizam o nascimento iminente. As contrações uterinas massageiam o seu corpinho e dão a noção do ritmo. Finalmente, a passagem pelo estreito canal de parto comprime o tórax
do bebê, auxiliando na saída do líquido amniótico presente em seus pulmões, boca e narinas. O bebê nasce, e enquanto permanece ligado à placenta pelo cordão umbilical que pulsa não há pressa em respirar. Nos braços da mãe, ele
conhece o novo espaço, espirra, tosse e finalmente respira. Às vezes chora vigorosamente, às vezes apenas resmunga. Em alguns minutos, os pulmões expandem, a circulação fetal deixa de existir e a placenta não é mais necessária. O cordão umbilical para de pulsar e pode ser cortado. Enquanto isso, mãe e filho se reconhecem, trocam cheiros, o som do coração da mãe
acalma o bebê, que lentamente começa a procurar o seio. Depois de mamar, o bebê adormece e descansa por um longo período, se recuperando dessa grande jornada.

A sequência descrita acima foi planejada pela natureza, ao longo de milhares de anos de evolução.
Infelizmente, este processo fisiológico não é respeitado na maioria das maternidades brasileiras. Aproximadamente 40 % dos bebês da rede pública e 80% da rede privada nascem através de cesariana. Grande parte deste número –principalmente na rede privada- correspondem as cesarianas eletivas (aquela
marcada por conveniência do médico ou da mulher ). Nestes casos, o bebê não sabe que vai nascer. Não foi avisado pelo trabalho de parto, não recebeu os hormônios necessários, não sentiu o ritmo das contrações, nem passou pelo canal de parto. Frequentemente estava dormindo no momento do nascimento. Tem que passar de feto a gente que respira em segundos. Seus pulmões, boca e nariz estão cheios de líquido amniótico. Só resta ao bebê aterrorizado a opção de chorar para expandir os pulmões e concluir à força o processo de transição.

A criança é levada a um berço aquecido, onde é vigorosamente enxugada. Geralmente o pediatra introduz uma sonda em sua boca e narinas para aspirar as secreções. A criança é pesada, medida, classificada e identificada. Rapidamente é apresentada à mãe, que não pode segurá-lo porque tem as mãos presas na mesa cirúrgica.

O bebê então é levado ao berçário, onde é colocado em um berço aquecido, observado pela família através de um vidro. Ali ele recebe um colírio de nitrato de prata, cujo objetivo é prevenir uma eventual conjuntivite pela bactéria causadora da gonorréia. É provável que suas pálpebras fiquem inchadas e doloridas em consequência do colírio. Ele recebe ainda uma injeção intramuscular de vitamina K, medicação usada para prevenir um
distúrbio de coagulação.

Através do vidro do berçário observamos o recém nascido, sozinho no berço aquecido. A agressão sensorial foi tamanha que muitos dormem, exauridos. Outros choram e se debatem, observados pela família orgulhosa.

Algumas horas depois, o banho. O recém nascido é lavado com água morna, na banheira ou sob a torneira da pia. É preciso lavá-lo e remover qualquer vestígio de sangue ou vérnix. É necessário que ninguém perceba que o bebê nasceu de um útero, lugar cheio de mistérios. A criança é vestida e finalmente será amamentada.

A mãe recebe o pequeno estranho... que sequer viu nascer através dos panos estéreis da cirurgia. O pequeno estranho não tem seu cheiro, aliás cheira a algum produto químico. O pequeno estranho está sonolento, porque durante o período fisiológico de vigília estava no berçário. Depois de algum esforço, afinal consegue mamar. A natureza felizmente continua sábia e é através da amamentação que a mãe e o pequeno estranho vão enfim criar vínculos."